Até o surgimento dos mais recentes fármacos para o tratamento da disfunção erétil, a popular “impotência sexual” masculina contou com um bom aliado, chamado de Ioimbina.
Um dos primeiros medicamentos orais para melhoria da função sexual, o composto atua no aumento do fluxo sanguíneo na região do pênis. Até o desenvolvimento do remédio, o manejo do problema era associado à injeção de substâncias diretamente no órgão, o que poderia ser um tanto quanto incômodo para muita gente.
“A eficácia na disfunção erétil não é muito boa, contudo, e a substância parece ter efeitos mais relacionados à redução do ‘desânimo’ e aumento do vigor físico que, diretamente, à ereção propriamente dita. A ioimbina deixou de ter espaço importante na clínica depois do lançamento de fármacos como a sildenafila, composto ativo do Viagra, que são muito mais eficientes e seguras”, avalia o farmacologista Lucas Gazarini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
O que é a Ioimbina?
A Ioimbina é um alcaloide, um tipo de substância produzida por plantas e que geralmente tem efeitos sobre o sistema nervoso central.
“Em 1896, ela foi identificada como a principal substância responsável pelos efeitos vasodilatadores e estimulantes da casca de Pausinystalia johimbe, uma planta nativa da África. Popularmente chamada de pau-de-Cabinda, ela tinha usos tradicionais por algumas populações africanas, principalmente em rituais afrodisíacos”, conta Gazarini.
Atualmente, a Ioimbina pode ser obtida a partir de outras plantas, como as do gênero Rauwolfia, além da formulação sintética em laboratório.
Como o composto funciona no organismo?
A ioimbina bloqueia receptores específicos, induzindo uma estimulação do sistema nervoso simpático, uma subdivisão de neurônios e nervos que coordenam respostas de alerta e perigo, popularmente conhecido como nosso sistema de “luta ou fuga”.
Em geral, esse sistema é ativado quando estamos em perigo, gerando respostas para aumentar nossas chances de sobrevivência. Isso inclui o ajuste de parâmetros físicos, como aumento da frequência cardíaca e respiratória, da energia livre para gastar e da sudorese. E também psicológicos, como respostas de ansiedade e medo.
“Todas essas respostas acontecem porque a ioimbina aumenta a liberação de noradrenalina e adrenalina – dois neurotransmissores responsáveis pelos efeitos do sistema nervoso simpático – no sangue, em vários órgãos e tecidos periféricos, como vasos sanguíneos, pulmão, fígado, e no cérebro. Ou seja, a ioimbina consegue ‘simular’ quimicamente situações que ativariam mecanismos de defesa”, explica.
Para que serve?
A Ioimbina também tem sido utilizada como adjuvante no emagrecimento e para melhora do desempenho físico.
“Esses efeitos foram estudados e se justificam pelo aumento na liberação de adrenalina e noradrenalina, causando ‘ajustes metabólicos’ que poderiam promover melhora na perda de peso e performance em esportes”, detalha o professor da UFMS.
A elevação nas frequências cardíaca e respiratória melhoram a oxigenação, reduzindo a fadiga e aumentando a resistência. Enquanto o aumento da glicemia potencializa a energia para a realização de exercícios. Já a queima de gordura e a sudorese são exploradas em efeitos termogênicos.
Atualmente, seu emprego clínico é limitado, mas a substância ainda é encontrada em suplementos para emagrecimento e desempenho físico, como explica o farmacologista.
“Esse uso, contudo, não é clínico, porque os riscos no uso superam esses possíveis benefícios. Por isso, a substância é vendida, para essa finalidade, como suplemento dietético, que não é sujeito à regulamentação rigorosa de medicamentos”, pondera Gazarini.
Posologia
No Brasil, há um único medicamento contendo ioimbina registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com uso preconizado para disfunção erétil. Para essa finalidade, a dose recomendada é de 8 a 16 mg/dia, com duração máxima de 10 semanas.
O professor da UFMS alerta que não existem doses seguras estabelecidas para o uso de suplementos para emagrecimento e melhora do desempenho físico, por haver poucos estudos controlados com a ioimbina nesse sentido.
“Determinar a dose adequada é ainda mais complexo no caso de suplementos compostos, que contém a ioimbina associada ao extrato de plantas ou outras substâncias, como a cafeína, que podem interagir entre si”, pontua.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais comuns da Ioimbina incluem tontura, boca seca, sudorese, tremores, formigamentos de extremidades, taquicardia, hipertensão, ansiedade e insônia, especialmente em doses elevadas.
Estudos recentes com humanos mostraram que a ioimbina pode causar quadros de agitação extrema e crises maníacas, indução de ataques de pânico, piora na lembrança de traumas e até recaídas no uso de drogas de abuso.
“Existem relatos de morte por doses excessivas, então o uso fora do contexto clínico não é indicado e exige muita cautela”, alerta o farmacologista.
Quem não deve tomar Ioimbina?
O uso é contraindicado em pessoas com hipertensão ou doenças cardiovasculares, como arritmias, angina do peito e insuficiência cardíaca, porque os efeitos da substância podem agravar esses quadros, predispondo infartos cardíacos e acidentes vasculares encefálicos.
Pessoas com condições psiquiátricas também devem evitar, especialmente aquelas com transtornos de ansiedade, afetivo bipolar, do pânico, do estresse pós-traumático, por abuso de substâncias ou esquizofrenia, devido aos riscos de piora de sintomas e indução de episódios agudos.
O fármaco não deve ser administrado a pacientes idosos, pois eles são mais sensíveis aos seus efeitos. E também é contraindicado durante a gravidez ou período de amamentação.
Bula Ioimbina
Antes de utilizar qualquer medicação, é recomendável a leitura da bula.
O documento reúne informações sobre modo de usar, posologia, armazenamento, possíveis efeitos colaterais e contraindicações.
Acesse a bula da Ioimbina disponibilizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aqui.
Fonte Saude.Abril
Por Lucas Rocha
(Foto: jcomp/Freepik)