Mapará é vedete de mega-evento em Igarapé-Miri: pescadas 45 toneladas em um só dia

Um espetáculo de cultura, festa, congraçamento e economia com geração de renda para 37 comunidades com um total de 6.500 pescadores registrados na Colônia de Pesca Z15. Este é o resultado da abertura da temporada da pesca artesanal do peixe mapará, natural da região do Baixo Tocantins, no nordeste do Pará, ocorrida na última sexta-feira, 1º de março, depois de um período de quatro meses de defeso, em que as pessoas tiveram de se virar nos 30 para sobreviver com um salário mínimo do seguro-defeso e outras pequenas atividades, além da coleta do fruto de açaí, já que o município de Igarapé-Miri, a 143 quilômetros de Belém, é o maior produtor do líquido internacionalmente conhecido e que teve a safra prejudicada pelo forte verão amazônico do ano passado.

Naquele mesmo dia, eram realizadas festas congêneres nos municípios de Cametá e Limoeiro do Ajuru, na mesma região.

Em Igarapé-Miri, a Colônia Z15 contou com apoio da prefeitura municipal. Inclusive, o prefeito da cidade, Roberto Pina (PT), que é candidato à reeleição, e seu vice, Marcelo Corrêa (Republicanos) participaram ativamente do evento desde a madrugada, quando foi servido o café da manhã na sede da colônia, uma estrutura muito bem montada, com ambiente refrigerado e largo espaço, além de um trapiche para ancoragem de várias embarcações. A colônia tem na presidência a senhora Cristina Fernandes e como vice-presidente o senhor José Roberto Machado, os quais destacaram o trabalho desenvolvido, a importância da produção pesqueira para o desenvolvimento do município e de vários outros municípios da região, além da geração de emprego e renda para milhares de famílias guerreiras que vivem da atividade que ajuda a alavancar a economia paraense.

 

A PESCA

Na pesca artesanal do mapará a experiência e a preservação são pontos importantes para o sucesso da empreitada. A figura do taleiro é das mais importantes. É esse pescador que tem a experiência e o conhecimento para localizar os cardumes. Ali serão lançadas as redes que farão a pesca do produto, conforme explica o taleiro Olivaldo da Silva Lobo, 64 anos, que trabalha na pesca desde os 15. Entretanto, o período do defeso é que garante a sobrevivência e a abundância da espécie. O pescador diz ser importante preservar para garantir a sobrevivência da espécie e a fartura de alimento para toda a comunidade. Em Igarapé-Miri, as autoridades fiscalizam com rigor os rios da região para evitar que ocorra a pesca ilegal durante esse período. O pescador que for flagrado pode responder a vários procedimentos, inclusive, perder o direito ao seguro-defeso, afinal, pescar no período da reprodução, pode causar sérios problemas a toda a coletividade, como explica o pescador Manoel Júnior, que está na atividade desde criança. Segundo ele, o período do defeso deve ser respeitado para que, no dia 1º de março, todos, que estão na expectativa da chegada da abertura da pesca, tenham sucesso na atividade que, durante oito meses, garante renda e movimentação da economia. A pesca do produto vai de 1º de março a 1º de novembro. No dia 2 de novembro, Dia de Finados, a pesca é suspensa para que o mapará possa se reproduzir.

 

EXPECTATIVA

Neste ano, as expectativas eram de superar a marca das 80 toneladas de mapará na última sexta-feira, porém, a maré estava alta e logo deu para perceber que esse volume não seria atingido. Todavia, os pescadores da região acreditam que, no decorrer dos dias, essa produção crescerá e poderá, assim, superar a pesca do ano passado. Ademais, ressaltam, havia muito barulho, muita festa com a presença de turistas que chegam de todas as partes para ver o espetáculo da pesca do mapará, uma espécie que chega a pesar até um quilo e 300 gramas, quando bem adulto. O peixe é consumido de todas as formas, como assado de brasa ou frito.

Para Manoel, o peixe está “escondido por aí”, pois as coisas estão mais bem organizadas neste ano, a fiscalização ferrenha ajudou na preservação da espécie e, no ano passado, as expectativas não eram de tanta produção e a pesca acabou se superando.

A fiscalização do defeso, na região, é feita pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Colônia Z15.

 

DETALHES

Eram 4h da madrugada quando pescadores, diretores da Colônia Z15, imprensa, o prefeito Roberto Pina e o vice Marcelo Corrêa tomaram café para dar início ao grande dia da abertura da pesca artesanal do mapará.

Várias lanchas voadeiras partiram para as comunidades ribeirinhas onde os profissionais estavam com as redes lançadas nos mais diversos rios afluentes do Tocantins. Uma dessas comunidades é a do Pindobal.

Ali, centenas de embarcações como lanchas voadeiras, barcos a motor e canoas motorizadas estavam a postos. Todos queriam ver e, de alguma forma, participar do momento da puxada das redes com a produção de mapará.

Era uma sexta-feira de festas, mas, também, de chuva e calor. Barulho imenso que pode ter comprometido para a fuga do pescado. Mesmo assim, por volta das 13h30, as redes foram puxadas depois de várias ações de mergulhos de pescadores, que se arriscam para acompanhar essa captura do mapará no fundo do rio. Esses pescadores-mergulhadores, nesse dia, ainda arriscam a vida, pois, ao voltar à superfície, podem se encontrar com o fundo de alguma embarcação, o que pode gerar acidentes inclusive fatais

 

A PESCA

A rede foi puxada no Pindobal. Milhares de peixes foram retirados vivos e jogados nos isopores e nas basquetas, que têm capacidade de armazenar até 45 quilos de mapará. Nesse momento, fogos foram disparados, peixes eram festivamente jogados de uma embarcação a outra e as pessoas faziam questão de serem fotografadas segurando um exemplar do cobiçado peixe.

Depois, o almoço foi servido em restaurantes na ribeira, com o mapará como prato principal do cardápio ao lado do açaí com farinha.

Segundo o vice-presidente da Colônia Z15, Roberto Machado, “este é um momento para agradecer a Deus pela fartura, e também a todos pela beleza do espetáculo proporcionado no primeiro dia do retorno da pesca do mapará”. Ele acredita que a safra será grande e destaca que a colônia continuará dando apoio aos pescadores com diversos programas, como a pesca no quintal, em que os profissionais são instruídos a montarem seus criadouros, além da luta para que nada falte aos profissionais durante o período de preservação da espécie.

O levantamento total da coleta de mapará foi divulgado pela Colônia Z15 ontem, segunda-feira, 04. A partir de agora, até o dia 1º de novembro, as comunidades pesqueiras estarão na atividade da coleta do mapará, que movimenta a economia em Igarapé-Miri.

 

Fotos: Izabelly Victtórya