O presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, se tornou, na última quarta-feira (24), o primeiro líder do país a discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 58 anos. O último chefe de Estado sírio que havia tido a palavra na tribuna foi Nureddin al-Atassi, em 1967, antes de a família Assad tomar o poder e levar o país a décadas de isolamento internacional.
Sharaa se tornou presidente interino após liderar uma ofensiva contra o regime do ditador Bashar al-Assad, em 2024. A ação foi encabeçada pelo grupo fundado por ele, Hayat Tahrir al-Sham (HTS), junto a outras forças de oposição. Os insurgentes tomaram a capital Damasco e proclamaram a queda de Assad em dezembro do último ano.
Desde então, Ahmed al-Sharaa assumiu como presidente interino, prometendo reformas no país e um governo menos repressivo. Ele tem buscado apoio da comunidade internacional para a reconstrução da Síria.
Em seu discurso na ONU, Ahmed al-Sharaa afirmou que seu país foi “despedaçado” pela guerra civil e pelo regime da família Assad. O chefe de Estado afirmou que foi necessário que os grupos de oposição se erguessem para “erradicar o sectarismo”.
– Por longos anos, sofremos injustiça, privação e opressão. Então, nos erguemos para reivindicar nossa dignidade. Esta conquista síria única e a solidariedade entre nossos povos nos levaram a tentar erradicar o sectarismo e a lutar contra as tentativas de dividir nosso país, mais uma vez – afirmou.
DE JIHADISTA A PRESIDENTE
Apesar de hoje estar discursando na ONU na posição de presidente, Sharaa foi considerado, anos antes, terrorista por seu passado ligado a grupos como Al-Qaeda e Estado Islâmico. Ele era conhecido por seu nome de guerra, Abu Mohammed al-Golani.
Fundador do HTS, ele iniciou sua trajetória como lutador juntando-se à Al-Qaeda na guerra contra os EUA no Iraque. Al-Golani retornou à Síria durante a guerra civil no país, criando a afiliada da Al-Qaeda na nação síria, Jabhat Al Nusra.
De acordo com os EUA, o grupo terrorista incumbiu a Jabhat Al Nusra de derrubar o governo de Assad e criar um novo regime com base na lei islâmica sharia. A Nusra foi considerada terrorista em 2013 pelo país norte-americano, que acusou o grupo de ataques suicidas e mortes de civis.
Com o passar do tempo, Nusra se tornou a mais poderosa facção a rivalizar com Assad. Entretanto, ela resolveu romper seus laços com a Al-Qaeda em 2016 devido a diferenças ideológicas.
A partir daí, o grupo passou a se chamar Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), como conhecemos hoje. Embora al-Golani tenha tentado se desvincular de suas origens na Al-Qaeda, seu novo grupo também foi designado como terrorista pelos EUA em 2018. O país ainda pôs uma recompensa por al-Golani no valor de 10 milhões de dólares (R$ 61 milhões, no câmbio atual).
Após a nova reconfiguração política na Síria, a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, tem se aproximado do novo governo.
Em maio deste ano, o presidente Donald Trump afirmou que o novo líder do país tem “um passado forte”, mas acha que ele será “um grande representante”. Nos meses seguintes, os EUA removeram a classificação do HTS como terrorista e suspenderam a maioria das sanções que haviam sido aplicadas ao país ao longo do regime Assad.
Do Pleno.News