Prefeitura treina agentes para mapear pontos de açaí em Belém

Na quarta-feira (13), mais de 850 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) participaram, no ginásio Mangueirinho, do treinamento para atuar na identificação e cadastramento dos pontos de venda de açaí da cidade. Pela primeira vez, Belém passa por um levantamento dessa dimensão, com a meta de identificar e registrar mais de 8 mil batedores em todos os distritos do município.

O treinamento prepara os profissionais da saúde para visitar, entre 1º e 15 de setembro, cada estabelecimento, registrar informações essenciais dos pontos de venda, oferecer apoio técnico e prevenir surtos da Doença de Chagas, enfermidade que pode estar associada ao consumo de fruto contaminado. O levantamento também vai embasar políticas públicas de segurança alimentar.

Conduzido pelo Ministério Público do Pará (MPPA), por meio do Núcleo de Defesa do Consumidor, a formação contou com a parceria da Prefeitura de Belém, da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O diretor do Departamento de Vigilância Sanitária Municipal, Renan Puyal, apresentou a plataforma e demonstrou como o trabalho deverá ser executado. Ele também destacou que a ação vai preencher uma lacuna importante de informações para o município.

“Será fundamental para a formulação de políticas públicas no campo da segurança alimentar. Essas ações partem de demandas e informações, e hoje nós não temos esse dado, que é o mais essencial. Os agentes comunitários irão até os pontos, se identificarão e realizarão o cadastro por meio de uma plataforma fácil e intuitiva. A expectativa é que o levantamento seja concluído em duas semanas, mas, se necessário, o prazo será ampliado conforme as características de cada região”, explicou Renan.

De acordo com a promotora de Justiça Érica Almeida, coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor do MPPA, o cadastramento representa um avanço histórico.

“É um grande desafio mapear mais de 8 mil batedores de açaí. Esse trabalho começou há um ano e meio, quando foi identificado o aumento de casos de Doença de Chagas no Pará, especialmente em Belém, relacionados ao consumo do açaí. Agora, com o apoio dos ACS, conseguiremos chegar até cada ponto para que esses trabalhadores sejam reconhecidos e possam a partir daí receber apoio e melhorias”, afirmou a promotora.

“É importante destacar que o cadastramento e a abordagem dos ACS não têm o objetivo de fiscalizar os pontos de venda de açaí. Neste momento, o foco é identificar o número de estabelecimentos, para que possamos planejar ações de orientação e promover boas práticas no manuseio do fruto”, explicou.

O papel dos agentes comunitários de saúde

Para os agentes, a missão vai além do simples cadastro. Ana Paula, ACS da Unidade Básica de Saúde do Jurunas, ressaltou que a proximidade com as comunidades será um diferencial que facilitará o trabalho.

“Nós somos a ponte entre a Secretaria de Saúde e a população. Conhecemos o território, temos a confiança das pessoas, e isso vai facilitar para que os batedores de açaí nos recebam bem para o cadastramento”, disse a ACS.

Tecnologia a favor do mapeamento

O levantamento será registrado na plataforma Açaí no Ponto, desenvolvida pela UFPA em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Ela vai permitir inscrever, de forma rápida e georreferenciada, cada local de beneficiamento.

Segundo o coordenador do Termo de Execução Descentralizada do Ministério da Saúde para a capacitação de profissionais da Atenção Primária à Saúde em Belém e um dos desenvolvedores da plataforma, professor da UFPA Moisés da Silva, a ação com os agentes comunitários é uma etapa importante do projeto.

“Isso é muito importante porque o Pará tem o maior número de casos de doença de chagas no Brasil, e 90% deles estão ligados ao consumo de açaí contaminado. Precisamos saber onde ficam esses pontos para planejar capacitações para os batedores e garantir que a população tenha acesso a um açaí de qualidade. Esse é o foco principal do projeto neste momento”, explicou o professor.

Os ACS receberam orientações sobre abordagem aos batedores, uso da plataforma digital e aplicação das normas do Decreto Estadual nº 326/2012, que estabelece boas práticas no beneficiamento do açaí.

Entre os participantes, a ACS da UBS de Icoaraci, Leidiane de Oliveira, destacou que o treinamento trouxe mais segurança para a atuação em campo e ressaltou a importância de aprofundar o tema.

“Agora sabemos como explicar o processo e mostrar que o cadastramento é para benefício de todos. A plataforma é rápida e fácil de usar, e isso vai agilizar muito o trabalho”, afirmou Leidiane.

Com o mapeamento concluído, Belém terá em mãos dados inéditos para qualificar os batedores, fortalecer a segurança alimentar e proteger um dos produtos mais emblemáticos da cultura paraense.

A programação do treinamento incluiu palestras sobre o perfil epidemiológico da doença de chagas no Pará, orientações técnicas para a manipulação segura do açaí e explicações sobre a atuação do MPPA na fiscalização e apoio à vigilância sanitária. Além disso, os agentes receberam treinamento prático para utilizar o aplicativo que auxiliará no cadastramento dos estabelecimentos.

Da Agência Belém