Arqueólogos descobrem possível sinagoga antiga em local antes considerado igreja na Espanha

Arqueólogos que trabalham em um sítio na Espanha afirmam ter descoberto evidências do que pode ter sido uma sinagoga utilizada por uma comunidade judaica até então desconhecida. Durante a escavação do local, anteriormente considerado uma igreja do século IV, especialistas encontraram materiais e evidências arquitetônicas que os levaram a formular a hipótese de que o edifício era, na verdade, uma sinagoga, segundo estudo publicado no início deste mês.

Artefatos como fragmentos de lamparinas a óleo e um pedaço de telha decorada com menorás foram encontrados durante as escavações em Cástulo, um antigo assentamento romano no sul da Espanha, enquanto nenhum material com clara associação à fé cristã foi encontrado no local.

Em contrapartida, os arqueólogos encontraram evidências de culto cristão em outro local da cidade, disse à CNN na quarta-feira Bautista Ceprián, arqueólogo do projeto Cástulo Sefarad Primera Luz e autor do estudo.

O edifício também possui uma forma mais quadrada do que as igrejas cristãs, que tendem a ser mais retangulares, e os arqueólogos encontraram o que poderia ter sido um buraco para apoiar uma grande menorá, além das fundações de uma plataforma central elevada, ou bimá, que é comum em sinagogas mas não em igrejas, acrescentou ele.

Além disso, nenhuma tumba foi descoberta no edifício, que foi construído próximo a um templo romano abandonado — algo que teria sido temido pelos residentes cristãos devido à sua associação com o paganismo, acrescentou.

“É um local escondido, discreto e isolado que não teria sido visitado frequentemente pela maioria cristã”, disse Ceprián.

Em conjunto, essas evidências apontam para a existência de uma comunidade judaica anteriormente desconhecida na cidade, argumentam os autores do estudo.

“A reinterpretação do edifício de igreja para possível sinagoga seguiu um processo de raciocínio lógico baseado nos dados históricos e arqueológicos em nossa posse”, disse Ceprián.

No entanto, a falta de registros escritos de uma comunidade judaica em Cástulo deixa espaço para algumas dúvidas, como reconheceram os autores do estudo.

Especular sobre o cotidiano da comunidade seria “um exercício muito perigoso”, disse Ceprián, mas eles teriam vivido ao lado de seus concidadãos romanos na cidade.

Acredita-se que a população tenha então desaparecido, pois não é mencionada na lei antijudaica promulgada pelo rei visigodo Sisebuto, que governou o que hoje é a Espanha de 612 a 621, enquanto as comunidades judaicas de outras cidades próximas são especificamente nomeadas.

Uma possível explicação é que o clero cristão temia que a população local se convertesse ao judaísmo, dadas as “relações próximas e amigáveis” entre os dois grupos na região na época, disse ele.

Essa preocupação levou os líderes cristãos, que estavam se tornando cada vez mais influentes no Império Romano, a fomentar o medo e a oposição às comunidades judaicas, disse Ceprián.

Isso culminou em episódios que começaram por volta do final do século IV, nos quais cidadãos judeus eram pressionados a se converter ao cristianismo, com aqueles que se recusavam sendo “amigavelmente convidados” a deixar suas cidades natais, disse ele, acrescentando que esse tipo de incidente poderia ter ocorrido plausivelmente em Cástulo entre o final do século V e o início do século VII.

Agora a equipe trabalhará para proteger o local e as escavações continuarão, disse Ceprián. Eles pretendem permitir a visitação pública em algum momento no futuro, acrescentou.

“Não podemos descartar a possibilidade de encontrar evidências mais definitivas que nos permitam atualizar nossa hipótese de uma possível sinagoga para uma sinagoga de fato”, disse ele.

Da CNN Brasil