“A soberania digital e a independência tecnológica exigem planejamento e ação estratégica” — foi com essa frase que o General de Divisão Juraci Ferreira Galdino, comandante do Instituto Militar de Engenharia (IME), deu início à sua palestra durante o V Encontro da Rede Nordeste de Estudos Estratégicos. O evento, sediado em João Pessoa, tornou-se palco de uma análise profunda sobre como o Brasil pode se posicionar como protagonista na Quarta Revolução Industrial, enfrentando desafios como o dumping tecnológico e a drenagem de cérebros, e apostando em inovação nacional de ponta.
O General Galdino destacou a atuação do IME como centro de excelência em ciência e tecnologia, apontando que as pesquisas são orientadas à missão — isto é, visam aplicações concretas e estratégicas para a Defesa Nacional. Entre os principais investimentos estão sensores quânticos, inteligência artificial, manufatura aditiva, optrônicos e sistemas de comunicações criptografadas.
Essas tecnologias estão integradas em uma lógica de desenvolvimento progressivo, balizada pela escala de maturidade tecnológica (TRL), que vai da pesquisa básica (nível 1) até o produto pronto para uso (nível 9). Cada projeto passa por testes rigorosos, inclusive em ambientes reais ou simulados, como no exercício internacional Cyberflag, onde uma equipe brasileira, treinada no IME, foi a única a manter uma usina termoelétrica operacional sob ataque cibernético.
A importância social da tríplice hélice: academia, governo e indústria
Para além do campo de batalha, o General reforçou a importância da tripla hélice da inovação — academia, governo e indústria — como motor do desenvolvimento tecnológico e social do país. O IME, com seus mil engenheiros, atua em cooperação com universidades, startups e ICTs, recebendo apoio de órgãos como o MCTI para desenvolver soluções que não apenas atendam à Defesa, mas também beneficiem setores civis, como saúde, energia e agronegócio.
Além disso, a indústria de defesa brasileira é um setor intensivo em engenheiros e técnicos: enquanto a média nacional emprega 1,3% de engenheiros, esse índice sobe para 3,5% nas empresas de defesa. O impacto social também é sentido na formação de mão de obra altamente qualificada, ajudando a reter talentos no país e reduzir a dependência externa.
O futuro da soberania digital e tecnológica do Brasil
Num mundo marcado por cerceamentos tecnológicos e crescente concentração de patentes em poucos países, o Brasil precisa agir com inteligência para garantir sua soberania digital. Segundo o General Galdino, países desenvolvidos utilizam o argumento da dualidade tecnológica como justificativa para negar transferências de conhecimento, mesmo quando o uso pretendido é civil.
Por isso, o planejamento estratégico do Exército — como o programa Força 2040 — é estruturado com prospecção tecnológica, priorização de áreas críticas e investimento contínuo. A proposta é clara: dominar tecnologias antes que sejam cerceadas, garantindo ao país a autonomia em áreas como inteligência artificial, tecnologias quânticas, cibernética e sistemas de comando e controle.
Para o General, o Estado deve ser o principal impulsionador da inovação nacional, garantindo que o investimento em Defesa seja também um caminho para o desenvolvimento industrial e tecnológico do país.
*HUGO JUNIOR, Sucursal Nordeste do Jornal PASSAPORTE EM Campina Grande-Paraíba