“Marcos Baxim” rebate que sua campanha foi pautada dentro da legalidade
Uma enxurrada de contratação de funcionários temporários, cerca de 30% em relação ao total de funcionalismo público municipal, e sem a devida necessidade de urgência, com o beneplácito de reajuste salarial para esses temporários no espaço de apenas um mês; assinaturas de contratos variados com cheiro de suspeita, beneficiando inúmeras empresas. Com um único posto de combustível, e em apenas um dia (13 de setembro), foram assinados quatro contratos que totalizam cerca de R$ 1,7 milhão, por um prazo de quatro meses, para fornecimento de gasolina e diesel; distribuição de alimentos e de cestas básicas na aldeia indígena Suruí; farta distribuição de carne bovina e outros gêneros alimentícios, na zona urbana do município, entre outras atividades vistas como bastante suspeitas.
Até aí nada demais, se não tivesse ocorrido em pleno ano eleitoral, 2024 e, alguns desses fatos, poucos meses antes das eleições majoritárias. O palco de tudo isso, e muito mais, ocorreu no minúsculo município de Brejo Grande do Araguaia, no sudeste do Pará.
A denúncia dessas e de outras supostas irregularidades envolve o então prefeito de Brejo Grande, Jesualdo Nunes Gomes (2021/2024), e os recém eleitos, Marcos Dias do Nascimento, o “Marcos Baxim”, e seu vice, Flavio da Silva Matos. A máquina administrativa da prefeitura teria sido usada com força total, para beneficiar diretamente os candidatos eleitos.
Com o intuito de que a Justiça Eleitoral venha a cancelar os diplomas de “Marcos Baxim” e de Flávio Matos, assim como pedir a inelegibilidade de ambos por oito anos, é que a coligação União Pela Mudança (MDB, PT, PCdoB e PV), entrou com processo na 57ª Zona Eleitoral, comarca de São João do Araguaia. O candidato derrotado, Geraldo de Morais, também conhecido como “Geraldo Bila”, alega ter sido prejudicado através do abuso de poder econômico e político, patrocinados pelo ex prefeito Jesualdo Nunes.
No entanto, apesar de todas as evidências, com provas substanciais anexadas na denúncia, inclusive com fotos, imagens de vídeos e conversas de WhatsApp, “Geraldo Bila” não teve sucesso nessa primeira tentativa de mudar o resultado das eleições municipais. A ação da coligação “União Pela Mudança” foi julgada improcedente, pela Justiça Eleitoral de São João do Araguaia. Os advogados de Geraldo de Morais já recorreram dessa decisão inicial.
RECURSO
As alegações são as mesmas do processo inicial: abuso de poder, político e econômico, por parte do ex prefeito de Brejo Grande do Araguaia. Além da perda dos mandatos de Marcos Dias, e Flávio da Silva, a ação sugere ainda que o próprio Jesualdo Nunes Gomes, também seja penalizado com a inelegibilidade pelo prazo de oito anos. Além do pagamento de multas, por parte dos três.
O parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, é favorável pelo apelo de “Geraldo Bila”. Em despacho assinado em 7 de abril deste ano, o procurador Alan Rogério Mansur Silva, dá parecer para que sejam cassados os mandatos dos candidatos eleitos, assim como as respectivas inelegibilidades, incluindo a do ex prefeito. Este, que seja condenado ainda à pagar multa no valor de cinco mil Ufir.
CONTRATAÇÕES
Gráfico que consta da denúncia protocolada na Justiça Eleitoral, aponta que a administração de Jesualdo Nunes Gomes contratou nada menos que 73 servidores temporários, seis deles, índios da etnia Suruí. Não há informação, na referida denúncia, os critérios adotados para essa contratação maciça, em pleno ano eleitoral.
Mas chama a atenção, o fato de que, de um mês para outro, entre fevereiro e março do ano passado, esses temporários tiveram reajustes substanciais em seus salários. Em alguns casos, os aumentos mais que triplicaram. Exemplo disso foi o salário do índio Arawi Suruí, que em fevereiro recebia modestos R$ 1.597,12, mas em março seus vencimentos saltaram para incríveis R$ 6.870,00, um reajuste de R$ 5.272,88. Outro Suruí que também foi bafejada pelo surto de beneplácito do então prefeito, foi a indígena Metania, que ganhou um reajuste de cerca de R$ 3,3 mil, vendo seu salário pular de R$ 1.889, para polpudos cerca de R$ 5,2 mil.
Brancos também não ficaram de fora, desse verdadeiro festival de reajustes. Maria Elizenha Ferreira Ramos, seguiu o mesmo parâmetro de Metania, e também passou a receber mais de 5 mil. Outros, não foram tão bem contemplados assim. Paulo Ricardo, e Monica Barros, tiveram reajustes de apenas 50,00 em seus respectivos vencimentos.
Somente com os reajustes desses temporários, a folha de pagamento da prefeitura de Brejo Grande do Araguaia, significou um aumento mensal de cerca de R$ 120,3 mil. Um verdadeiro atrativo em termos de empregos no executivo, para um município que conta com uma população de apenas 6.783 habitantes, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2022.
ESCOLA ESTADUAL
Também é de se estranhar o fato de que, em 4 de setembro do ano passado, a prefeitura de Brejo Grande do Araguaia tenha assinado contrato com uma empresa (a denúncia não especifica que empresa), no valor de cerca R$ 4,413 milhões, para “reforma, adequação e ampliação” da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Lídio Solheiro, e que faria parte de um convênio com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Essa reforma, em um prazo de dez meses, “Não se trata de situação emergencial”, diz trecho do recurso da coligação “União Pela Mudança”.
Enfatiza ainda a denunciante, que o então prefeito Jesualdo Nunes praticou propaganda eleitoral extemporânea, através das redes sociais oficiais da Prefeitura de Brejo Grande. Expondo abertamente o apoio aos candidatos “Marcos Baxim”, e Flávio Matos, em época já fora do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral, para a veiculação de qualquer tipo de publicidade institucional, visando promover referidos candidatos.
Também pesa o fato de que, uma das empresas contratadas pela prefeitura “com contrato vultoso”, no feriado de 7 de setembro do ano passado teria colocado seus caminhões a disposição de um evento político dos candidatos apoiados por Jesualdo, através de uma grande carreata pelas ruas da cidade.
O recurso de Geraldo de Morais, consta de fotos, imagens de vídeos e troca de mensagens via WhatsApp, o que reforçou a denúncia perante a Procuradoria Regional Eleitoral. O parecer do procurador Alan Rogério Mansur Silva, recomendando pela cassação dos diplomas de “Marcos Baxim”, e Flávio da Silva, foi encaminhado para apreciação do juiz federal José Airton de Aguiar Portela.
Já as defesas do ex prefeito, e dos candidatos eleitos, alegaram em suas respectivas audiências, que não procedem as denúncias apresentadas pela coligação “União Pela Mudança”. Que todos os fatos, narrados pela acusação, foram realizadas dentro, e de conformidade com o que prevê a Justiça Eleitoral.
A reportagem tentou, por diversas vezes, ouvir as pessoas citadas nessa denúncia, cuja cópia do recurso o blogger obteve com exclusividade. As tentativas não surtiram efeito. Mas o espaço fica aberto para qualquer manifestação por parte do ex prefeito, Jesualdo Nunes, e dos eleitos, Marcos Dias do Nascimento, e Flavio da Silva Matos.
Serviço
“Marcos Baxim” foi eleito com 57,09% dos votos válidos, tendo totalizado 3.548, contra 2.667 conferidos à Geraldo Bila (42,91% do total). Diferença de 881 votos em prol da chapa vencedora. Compareceram 6.350 eleitores nas 26 seções, tendo sido contabilizada 864 abstenções. Cento e cinco votos foram anulados, enquanto 30 ficaram em branco. Votos válidos, 6.215. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
NILSON SANTOS/Da Sucursal sudeste do Pará em Marabá
Imagens: Reprodução de Rede Social
Geraldo Bila alega ter sido lesado pela máquina administrativa da prefeitura