Belém se despede de Dona Coló, guardiã dos saberes tradicionais do Ver-o-Peso

Belém amanheceu mais silenciosa com a notícia da morte de Dona Coló, uma das figuras mais emblemáticas do Mercado do Ver-o-Peso. Aos 73 anos, a erveira deixa um legado que atravessa gerações e simboliza a força da cultura popular amazônica, construída a partir do cuidado, da escuta e do conhecimento ancestral das plantas medicinais.

Por décadas, Dona Coló foi presença diária entre bancas perfumadas por folhas, cascas e raízes. Muito além da venda de ervas, ela oferecia orientação, acolhimento e fé. Seu saber, aprendido com os mais velhos e aprimorado ao longo da vida, transformou-se em referência para moradores de Belém, ribeirinhos, turistas e pesquisadores interessados na medicina tradicional da Amazônia.

Reconhecida pela fala mansa e pela generosidade no atendimento, Dona Coló ajudou a manter viva uma tradição ameaçada pela modernização e pela descaracterização dos espaços históricos. No Ver-o-Peso, seu nome tornou-se sinônimo de resistência cultural e de respeito à floresta, sempre defendendo o uso consciente das plantas e a preservação do conhecimento popular.

A morte da erveira provoca comoção entre colegas de mercado, clientes fiéis e entidades ligadas à cultura amazônica. Em nota, permissionários do Ver-o-Peso destacaram que Dona Coló “não era apenas uma comerciante, mas uma mestra dos saberes tradicionais, cuja ausência deixa uma lacuna irreparável”.

O velório e o sepultamento devem reunir familiares, amigos e admiradores, em um último adeus marcado pela gratidão. Para Belém, fica a saudade e a responsabilidade de manter vivo o legado de Dona Coló — uma mulher que fez do Ver-o-Peso sua casa e da sabedoria ancestral, sua missão de vida.

Do Jornal PASSAPORTE