Cultura digital e cidadania forma alunos criativos e críticos para encarar a desinformação

Em um contexto em que a tecnologia atravessa as formas de aprender, comunicar e participar da vida social, discutir cultura digital e cidadania tornou-se indispensável. A presença maciça de crianças e adolescentes na internet, especialmente por meio do celular, não garante que estejam preparados para atuar de forma crítica nesse ambiente. Segundo a TIC Kids Online 2016, 82% dos jovens usam a rede e muitos fazem isso de forma intensa e solitária. Esse cenário exige que a educação ultrapasse a simples uso de tecnologias digitais e desenvolva estudantes capazes de imaginar, investigar e produzir conhecimento com intencionalidade e senso crítico.

Formar jovens criativos significa ir além da familiaridade técnica com telas e aplicativos. Criatividade emerge quando tecnologia e imaginação se encontram em experiências que convidam a projetar, testar, brincar e construir algo que faça sentido. Não se trata apenas de expressar-se artisticamente, mas de desenvolver autonomia intelectual para formular problemas, investigar fontes, construir narrativas próprias e compreender como mídias e algoritmos moldam percepções e geram impacto na sociedade. Ainda de acordo com a TIC Kids Online, 31% dos jovens entre 11 e 17 anos afirmam não saber avaliar a veracidade das informações que encontram on-line. Assim, o desafio é fazer com que a presença digital se converta em habilidade para investigar, interpretar e produzir sentidos, preparando os jovens para navegar com consciência em ambientes permeados por desinformação.

A escola tem papel decisivo nessa tarefa, especialmente em um cenário marcado por desinformação e pela ação de algoritmos que limitam repertórios. Quando os estudantes entendem como os conteúdos são produzidos e distribuídos, passam a identificar riscos e oportunidades da cultura digital. Ao mesmo tempo, precisam ter espaço para experimentar sua própria criatividade, produzindo mídias, investigando problemas reais e participando de projetos autorais. Ao criar vídeos, podcasts, reportagens ou protótipos, por exemplo, compreendem os bastidores da comunicação e desenvolvem senso de responsabilidade sobre o que publicam e compartilham. Criar também é aprender a criticar.

A alfabetização midiática e informacional, defendida pela Unesco, precisa ser contínua e integrada ao currículo, perpassando por todos os componentes curriculares, e não uma atividade pontual. Ensinar a reconhecer vieses, avaliar fontes, interpretar imagens e identificar manipulações contribui para que os estudantes desenvolvam critérios próprios de validação. Assim, a escola se torna um ambiente seguro para experimentar, confrontar ideias, errar e aprender, preparando os jovens para navegar entre criação e desinformação com autonomia e ética.

A Aprendizagem Criativa reforça essa perspectiva ao propor projetos significativos conectados aos interesses dos estudantes. Produzir um vídeo, programar um jogo ou criar uma solução para um problema da comunidade ajuda o jovem a perceber que a cultura digital é um espaço de participação cidadã. A autoria deixa de ser apenas uma habilidade técnica e passa a representar uma forma de intervir no mundo, compreender impactos coletivos e assumir responsabilidades. Os4 Ps da Aprendizagem Criativa – projetos, paixão, pares e pensar brincando – estimulam colaboração, diálogo e troca, competências essenciais para a vida democrática. Ao trabalhar em grupo, negociar ideias e considerar diferentes perspectivas, os estudantes levam para as redes sociais práticas mais responsáveis e cooperativas.

Prevenir a desinformação, por sua vez, começa muito antes de enfrentar diretamente conteúdos falsos. A prevenção nasce quando a escola incentiva a curiosidade, a dúvida e o pensamento criativo como motores de aprendizagem. Jovens que aprendem a fazer perguntas, buscar pistas, investigar e comparar fontes tornam-se menos vulneráveis à crença cega e à reprodução automática de conteúdos enganosos. Combater a desinformação  é muito importante, e cultivar uma postura investigativa é  decisivo nesse processo.

Diante desses desafios, a escola tem a oportunidade de assumir um papel decisivo na formação de cidadãos capazes de criar, questionar e participar de modo consciente da cultura digital. Isso significa cultivar ambientes onde a imaginação se transforme em projetos, a investigação em conhecimento e a autoria em responsabilidade coletiva. Ao integrar criatividade, análise crítica e ética em experiências de aprendizagem significativas, educadores ajudam os estudantes a compreender o funcionamento das mídias, enfrentar a desinformação e atuar de forma colaborativa nos espaços digitais. Educar para a cidadania digital, portanto, é preparar estudantes para, não apenas consumir conteúdos, mas para produzir sentidos, construir argumentos e contribuir para uma internet mais democrática, diversa e responsável.

Texto: Cléssio Bastos, que atua como Consultor Pedagógico no Instituto Escolas Criativas

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