Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em Belém (COP 30), em que se discutiu, de 10 a 21 de novembro, em Belém, o futuro do planeta, uma lição de respeito ambiental também foi dada por um grupo de mulheres catadoras. Longe dos discursos, era nas ruas que elas protagonizavam uma grande operação de coleta e triagem de resíduos. Para essas trabalhadoras, a conferência se tornou um divisor de águas, oferecendo não apenas a visibilidade merecida para a sua profissão, mas também melhorias estruturais e a renda que traduzem a sustentabilidade em dignidade.
Na Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), uma das entidades essenciais na operação de manejo de resíduos em Belém, a COP 30 deixou uma marca que vai muito além dos dias de coleta, garantindo uma nova perspectiva para quem vive da reciclagem, materializada em ganhos e melhorias.

Aldenira dos Santos, de 52 anos, viu na Conferência um período de intenso aprendizado e transformação. Trabalhando há oito anos na Concaves, a reciclagem se tornou a base de sua vida e a COP 30 injetou um novo sentido e propósito em sua jornada.
Segundo a catadora, a cooperativa resgatou sua vida. A renda obtida, impulsionada ainda mais pelo evento, vem mudando o dia a dia de toda a família. “Eu trabalhei todos esses dias durante a COP com os resíduos sólidos. Esse dinheiro extra, trazido pelo evento, vai me permitir finalizar a minha casa, que é uma grande conquista“, explica.
“A cooperativa mudou os meus dias. Eu estava desempregada, não tinha uma renda e hoje eu tenho esse trabalho. É daqui que tiro meu sustento. A reciclagem foi uma maneira de eu conseguir viver. Este trabalho também me ajuda a esquecer meus problemas. Quando venho para cá consigo esquecer de tudo. Além disso, a reciclagem também mudou dentro de casa. O meu neto tirou uma nota boa na escola, em uma prova, porque eu o ensinei sobre a importância da separação de resíduos.”

Ana Letícia de Sousa Lopes, de 21 anos, trabalha há um ano na Concaves. É sua primeira experiência de emprego. Para ela, a COP 30 foi uma oportunidade de crescimento e valorização.
“Esse aqui é o meu primeiro trabalho. Eu gostei tanto que estou aqui até hoje. Tem sido uma grande experiência porque eu pude conhecer outros lugares com esse trabalho. Conheci muitas pessoas incríveis. Tem pessoas que estavam em situação de rua e agora estão aqui. Trabalhei no carnaval, no Círio, e agora em vários eventos da COP. Eu gosto de trabalhar aqui. Antes eu tinha um conhecimento bem básico sobre a reciclagem. Agora eu sei de toda a importância dos catadores, principalmente durante a COP, em que nosso trabalho ficou em evidência para o mundo todo“, afirma.
Ana Letícia também destacou o impacto do evento para a integração da categoria e as melhorias concretas no seu dia a dia de trabalho. “A COP foi importante porque uniu as cooperativas. Ali aprendemos a trabalhar juntos. Além disso, também tivemos a reforma do nosso galpão, que foi a melhor parte. Quando entrei, tudo ainda estava na lama. É muito bom ver o crescimento da nossa cooperativa.”
Grande operação de limpeza e coleta
Coordenada pela Secretaria Executiva de Inclusão Produtiva (Seinp), a operação da Prefeitura de Belém envolveu a Concaves, a Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis das Águas Lindas (Aral), a Associação/Cooperativa de Trabalho dos Catadores da Coleta Seletiva de Belém (ACCSB), a Cooperativa Filhos do Sol, a Ciclus Amazônia, responsável pela coleta de rejeitos e entulhos, e o Instituto Pólis, parceiro técnico na compostagem.
O planejamento priorizou a coleta noturna, para garantir que a capital amanhecesse organizada, segura e pronta, sem interferir no trânsito diário da conferência. O trabalho também envolveu educadores ambientais que atuaram como supervisores de resíduos para o monitoramento, triagem, acondicionamento correto e direcionamento às cooperativas.
No total, 855 toneladas de resíduos foram retiradas dos ambientes da COP 30 e das principais rotas de circulação. As rotas estratégicas, avenidas por onde circularam delegações e chefes de Estado, concentraram o maior volume. As equipes percorreram avenidas como Nazaré, José Malcher, Magalhães Barata, Gentil Bittencourt, Serzedelo Corrêa e Portugal. Nestas rotas estratégicas, foram retiradas 700 toneladas de resíduos.
Nos espaços oficiais – Blue Zone, Green Zone e Aldeia COP – foram retiradas 155 toneladas de resíduos. O volume foi distribuído entre, 15 toneladas de recicláveis, 21 toneladas de rejeitos, 72 toneladas de resíduos compostáveis úmidos e 47 toneladas de entulhos.
O trabalho de separação dos resíduos para reciclagem segue sendo realizado pelas catadoras, que em breve darão destinação aos materiais recicláveis.
Da Agência Belém
