Prefeitura de Belém debate justiça climática e social na COP 30

A Prefeitura de Belém promoveu o painel ‘Não existe justiça climática sem justiça social: representatividade nas negociações climáticas’, realizado no espaço Free Zone da COP-30, na quarta-feira (19). O encontro reuniu representantes municipais e de instituições privadas para discutir os impactos das mudanças climáticas sobre os grupos mais vulneráveis.

Participaram da mesa de debate a titular da Secretaria da Mulher (Semu) Silvane Ferraz; a superintendente da Primeira Infância Flávia Marçal; a titular da Secretaria Executiva de Direitos Humanos de Belém Larissa Martins; e a representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ellen Cristina Acioli.

O painel teve o objetivo de discutir como as mudanças climáticas afetam os grupos mais vulneráveis da sociedade, como as mulheres, as crianças, ribeirinhos, quilombolas, povos indígenas e moradores da periferia.

“Os grupos que menos contribuem para os impactos globais são os que mais sofrem com eles”, afirmou Silvane Ferraz. Ela ressaltou que, em situações de secas ou enchentes, são as mulheres em maior vulnerabilidade social que ficam mais expostas a abusos físicos, psicológicos e sexuais.

Já a secretária municipal de Direitos Humanos, Larissa Martins, defendeu que a Amazônia precisa ser protagonista na elaboração de políticas públicas. “Antes, apenas o sul e o sudeste falavam sobre nossa região – e falavam de maneira colonial. A COP-30 inverteu isso. Mas quando a conferência acabar, o que ficará de legado para nós?”, questionou.

Martins lembrou que os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos diariamente em Belém. “As chuvas da tarde hoje são torrenciais e quem sofre são os moradores das baixadas. Não se trata de faltas de obras públicas, mas de um clima que está mudando, rios que estão secando. E é nosso dever nos engajar contra essas mudanças, coletivamente, em prol de uma cidade, um estado e um país melhor”, disse a secretária, ressaltando que as mulheres são protagonistas nos movimentos sociais, nas marchas e nas reivindicações em prol de um mundo melhor.

INFÂNCIA EM RISCO

O debate também destacou a vulnerabilidade das crianças diante do aquecimento global. A superintendente da Primeira Infância, Flávia Marçal, alertou para o aumento de problemas pulmonares em crianças de até seis anos, provocado pela inalação de gases emitidos pelos veículos.

“O aumento da temperatura global também afeta gestantes. Muitos partos estão ocorrendo antes da hora por causa do calor extremo”, explicou Flávia.

Ela ainda citou projeções alarmantes. “Daqui a 50 anos, Belém será a segunda cidade mais quente do mundo. E quem estará aqui? As crianças de hoje”.

A superintendente destacou iniciativas da gestão municipal para enfrentar esses efeitos da crise do clima, incluindo ações nas áreas de saúde, educação, assistência social e urbanização. Entre os projetos citados está o “Escolas Verdes para Cidades Resilientes”, desenvolvido pela Superintendência da Primeira Infância e pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Semec), em parceria com o Ateliê Navio e a Urban95, implantado na Escola Bosque, em Outeiro.

A escola ganhou um parque naturalizado que usa elementos da natureza — troncos, plantas e água — para favorecer o brincar ao ar livre. A proposta integra arquitetura, educação e resiliência climática.

Representando o BID, Ellen Acioli apresentou o programa Amazônia Sempre, iniciativa para promover o desenvolvimento sustentável na região. Acioli explicou que o programa tem cinco eixos: combate ao desmatamento e fortalecimento da segurança ambiental; incentivo a atividades econômicas sustentáveis; ampliação do acesso a saúde, educação e emprego; promoção de cidades resilientes e sustentáveis e melhoria da conectividade entre regiões amazônicas.

“O programa prioriza mulheres, povos indígenas, comunidades afrodescendentes e demais populações tradicionais”, explicou.

PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO

Com grande presença de público, o painel abriu espaço para perguntas e reflexões. Após isso, Silvane Ferraz reforçou a importância da conscientização sobre a preservação da floresta.

“É fundamental sensibilizar quem vive no ambiente urbano, inclusive empresários, para garantir recursos que minimizem os efeitos climáticos. Esses impactos atingem, principalmente, territórios e famílias vulneráveis, afetando saúde, educação e até o acesso à alimentação”, concluiu.

Da Agência Belém