“Foi uma redenção”, segundo Camila Ferezin, a técnica do conjunto do Brasil de ginástica rítmica. Ontem, o conjunto, formado por Duda Arakaki, Nicole Pircio, Sofia Madeira, Maria Paula Caminha e Mariana Gonçalves, conquistou inédita medalha de prata na prova olímpica do Campeonato Mundial, na Arena Carioca 1, no Rio.
Após as apresentações mista (três bolas e dois arcos) e simples (cinco fitas), o conjunto brasileiro alcançou o somatório de 55.250 pontos.
As brasileiras, que se apresentaram no grupo 1, tiveram de esperar as séries de outras 18 seleções para conferir o resultado final. E foi com emoção: o torneio atrasou cerca de uma hora por causa da queda do sistema de pontuação da Federação Internacional de Ginástica.
O Japão que precisava de 28.050 para passar o Brasil conseguiu 28.350 na série mista, de perfeita execução. Somou 55.550 (com 27.200 na série simples) e passou à frente das brasileiras, ficando com o ouro. A medalha de bronze foi para a Espanha, com 54.750 pontos.
Na cerimônia de pódio, mais um show da torcida, que apoiou as atletas do início ao fim. Após a execução do hino do Japão, o público cantou o hino do Brasil. As atletas medalhistas permaneceram no pódio até o final.
— O que a gente passou em Paris foi muito triste, é uma redenção sim. A gente se deu as mãos e ninguém soltou a mão de ninguém — disse Camila, referindo-se à eliminação na Olimpíada de Paris, quando o Brasil era candidato a pódio. — E, hoje, saímos honradas dentro da nossa casa, com essas coreografias, a torcida conosco, até pela Déborah (Medrado) e a (Victoria) Borges. Não vejo a hora de encontrar com elas porque fizemos por elas também — completou Camila, ao lembrar de outras ginasta do grupo.
O Brasil chegou em Paris com reais chances de conquistar uma medalha inédita mas após contusão da Victória Borges, as ginastas viram o sonho do pódio escapar pelos dedos. A modalidade não permite substituições. O Brasil terminou em nono, fora das finais.
As atletas, que moram em Aracaju com a seleção permanente, foram resilientes e também lembraram de Paris.
— A gente se superou fazendo o que a gente sempre faz que é trabalhar — declarou Duda, capitã do conjunto.
Nicole disse que o Mundial em casa foi o que elas precisavam para seguir em frente:
— Paris foi bem doloroso, mas ao mesmo tempo deixamos a marca do nosso time, de união, força e resiliência — falou. — Antes de entrar na competição, no Rio, fizemos o nosso ritual. Oramos, olhamos uma para outra, falamos palavras de incentivo, nos abraçamos e rugimos. Porque somos as leoas. E este é um dos momentos mais gostosos da competição. É quando só pensamos em ser felizes.
TORCIDA DO FLAMENGO
Neste sábado, as ginastas levaram o público à loucura. Logo na primeira apresentação, com a série mista, embalada por “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó, o Brasil mostrou segurança e fez uma apresentação impecável. A exibição rendeu 27.850 pontos, colocando as brasileiras à frente da favorita China, atual campeã olímpica na primeira rotação. Com série dificílima, as chinesas foram incríveis mas ficaram abaixo do Brasil na série mista (27.650) e chegaram a recorrer, mas não tiveram a nota aumentada.
Na série simples, a equipe brasileira, ao som de “O que é o que é”, de Gonzaguinha, também se apresentou muito bem, apesar de pequenos erros e marcou 27.400.
— São séries pensadas, com acompanhamento de árbitros internacionais justamente para isso, para ter notão — disse Bruna Martins, assistente técnica de Camila. — Temos séries competitivas para entrar no jogo mesmo. E são 2min30 de apresentação que demoram uma eternidade. A impressão que tenho é que a cada lançamento (de equipamento) é um pênalti sendo cobrado.
Para aguentar a pressão e não se desconcentrar com o barulho da torcida, as ginastas do Brasil treinaram na última semana com o som da torcida do Flamengo ao fundo. Uma maneira de simular o que elas encontrariam na arena.
— Claro que nada do que tentamos chegou aos pés do que foi aqui. Realmente o brasileiro é diferenciado. Treinamos para a pressão. E nos preparamos para a torcida também. Durante os treinos, colocamos o som da torcida do Flamengo para ter a mesma sensação —revelou Nicole.
Neste domingo o Brasil terá novas chances de pódio, no último dia de competição, com as finais das séries mista (terminaram em terceiro) e simples (terminaram em segundo), a partir das 12h50. Além destas finais acontecerão as decisões do individual por aparelhos, a partir das 11h.
— Podemos ir até melhor! Vários critérios nas trocas (quando as ginastas jogam os aparelhos para as outras) que elas não executaram hoje, nesse momento mais tenso de classificatória. Elas não arriscaram. Vamos trabalhar para elas fazerem amanhã. — explicou a técnica.
Visivelmente emocionada, ainda antes do resultado final, Camila comentou sobre o trabalho de seu time, com 17 profissionais. Camila assumiu a seleção de conjunto em 2011. E de lá para cá mudou totalmente o esquema de trabalho desta seleção:
— Eu acho que as ginastas conseguiram aguentar essa emoção de competir em casa, essa pressão, e conseguiram mostrar as séries. Eu fiquei muito feliz com o que elas fizeram em quadra, porque eu sei… eu sei que não é fácil. Mas a gente se preparou muito bem, construímos isso ao longo dos anos, foi um trabalho de formiguinha, de um time todo — disse a treinadora, que comentou sobre a energia da arena. — Foi mais do que eu sonhei. E olha que eu sonhei. Desde quando a gente escolheu a música, “Eviências” a gente sabia que público cantaria. Foi incrível, o ginásio lotado vendo ginástica rítmica, um esporte que muitas pessoas, há um ano, não sabiam nem o que era, se era a mesma modalidade da Diane dos Santos, da Rebeca. A ginástica rítmica vai estourar, assim como a artística, e daqui a pouco passar o futebol, hein? Eles que se cuidem.
Este ano, o conjunto do Brasil já havia conquistado o ouro no conjunto geral no World Challenge Cup de Portimão (além do ouro na série simples e mista) e o ouro inédito no conjunto geral na etapa da Copa do Mundo de Milão (e o bronze na prova mista).
As leoas do Brasil mostraram as garras.
Do Extra.Globo