O Seminário Rumos – O Turismo Pós-COP30, promovido pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur), reuniu especialistas e gestores no Hangar – Centro de Convenções & Feiras da Amazônia, em Belém, para traçar estratégias de fortalecimento do turismo no Pará. Com destaque para tendências, perfil de consumo, destinos e inteligência de dados nos dois primeiros dias, a programação contou com discussões sobre planejamento da gestão pública no turismo e promoção internacional do Estado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30). O evento, realizado nesta semana, reuniu gestores públicos, lideranças comunitárias, empresários, especialistas, estudantes e profissionais do trade turístico.
Na palestra de abertura “Tendências de consumo e o novo perfil do turista”, a presidente-executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Marina Figueiredo, abordou a evolução dos hábitos de viagem e o perfil do consumidor atual. Segundo ela, os viajantes do presente — e, sobretudo, do futuro — valorizam experiências genuínas, que expressem a identidade do lugar e promovam conexões com o cotidiano e a cultura local. “O turista quer vivência real com o território, com o dia a dia local, com a cultura que pulsa nas comunidades”, afirmou.
Marina Figueiredo também destacou o potencial do Pará para se posicionar em nichos estratégicos, como turismo gastronômico, de bem-estar e de luxo (entendido como exclusividade e personalização) e chamou atenção para a importância da inserção dos produtos amazônicos nos canais de comercialização turística. Ela ressaltou que destinos que conseguirem traduzir a autenticidade de seus pratos, festas, rituais e ambientes naturais em experiências memoráveis estarão um passo à frente. “Não basta ser incrível; é preciso estar na prateleira. Um destino precisa ser encontrado”, reforçou.
IDENTIDADE E PROPÓSITO
O painel “Desenvolvimento de experiências turísticas com identidade amazônica” destacou o protagonismo de iniciativas que integram a cultura local, a economia criativa e o turismo de base comunitária. A mediadora Márcia Bastos, da Setur, apresentou os projetos Kayré Experiências, Casa da Luna e Ygara Artesanal, e enfatizou a importância de fortalecer cadeias produtivas locais e dar visibilidade a experiências que já existem. “As comunidades amazônicas já estão fazendo turismo”, disse a mediadora, acrescentando que “estamos falando de turismo como estratégia de resistência e de afirmação da nossa identidade amazônica”.
Edilene Figueiredo, da Kayré Experiências, explicou que a proposta do projeto é oferecer imersão no cotidiano da Ilha do Combu (pertencente a Belém), valorizando o protagonismo local e evitando a criação de personagens turísticos artificiais. “A experiência precisa ser conduzida por quem pertence ao território. É isso que garante autenticidade”, ressaltou. Os pilares da experiência Kayré incluem gastronomia, artesanato, manifestações culturais e práticas ambientais, todos realizados com participação ativa dos moradores locais.
Isabella Barbosa, superintendente de Promoção, Marketing e Eventos da Setur do Maranhão, compartilhou o case da Rota das Emoções, um roteiro turístico que integra três estados — Maranhão, Piauí e Ceará —, em um percurso de 900 quilômetros, com forte apelo de natureza, cultura e aventura. Segundo ela, o sucesso da Rota reside na governança entre os entes federativos e na capacidade de formatar produtos com consistência, identidade e apelo comercial. “A integração regional é fundamental para fortalecer o turismo como vetor de desenvolvimento”, garantiu. A executiva maranhense explicou que a Rota das Emoções é vendida nacional e internacionalmente, e serve como modelo para a formatação de novos roteiros no Brasil.
AUTENTICIDADE
O arquiteto e urbanista Caio Esteves propôs uma reflexão com a palestra “Turismo à Prova de Futuro: como identidade, hospitalidade e foresight estão redesenhando o ato de viajar”. Especialista em Place Branding, ele defendeu que essência e identidade são os fatores que sustentam os destinos diante de transformações globais, como a crise climática, a digitalização e as mudanças no consumo. “Autenticidade é a chave. A identidade é o que faz o destino ser resiliente e desejado”, afirmou.
Caio Esteves defendeu que o futuro do turismo não será apenas sobre infraestrutura ou marketing, mas sobre essência e propósito. Para ele, destinos que conseguirem traduzir seus atributos intangíveis — como acolhimento, memória, pertencimento e valores — em experiências reais terão mais chances de se manter relevantes.
INFRAESTRUTURA INVISÍVEL
Rayane Ruas, da Sprint Dados, apresentou uma abordagem sobre inteligência turística baseada em evidências. A especialista falou sobre Big Data, Business Intelligence e Data Analytics, destacando a relevância da Pirâmide do Conhecimento de Russell Ackoff, que organiza o processo decisório em quatro níveis: dados, informações, conhecimento e sabedoria. “Os dados são uma nova infraestrutura invisível do turismo. Assim como precisamos de aeroporto ou hotel, precisamos de dados confiáveis”, afirmou.
Segundo ela, o planejamento turístico deve ser orientado por evidências, com capacidade de análise preditiva e avaliação de resultados. “Precisamos olhar para o passado, entender o presente e planejar o futuro com base em dados. Essa tríade é fundamental para preparar o Pará para capacitação, captação de recursos e promoção do turismo para a COP30, e além dela”, concluiu Rayane Ruas.
CAPACITAÇÃO E CAPTAÇÃO DE RECURSOS
A assessora técnica da Setur, Solange Reis, ministrou a oficina “Elaboração de Projetos Turísticos”, na qual os participantes aprenderam sobre a estruturação de projetos, fontes de financiamento e a importância dos processos licitatórios. A atividade também incluiu a elaboração prática de um projeto, permitindo que os participantes aplicassem os conceitos discutidos.
O painel “Atendendo os Critérios do Mapa do Turismo”, conduzido pelo gerente de Estruturação de Destinos Turísticos da Setur, Hugo Almeida, detalhou as diretrizes e a importância do Mapa para o acesso dos municípios às políticas públicas federais, destacando aqueles que foram contemplados com ações. Ele explicou como as políticas da Secretaria de Turismo são descentralizadas para atender a diversas localidades, incluindo Xinguara, no sudeste paraense, um dos municípios mais distantes de Belém. “Atualmente, o Pará é, proporcionalmente, o terceiro estado com o maior número de municípios inseridos no Mapa. Passamos de 20 para 81 municípios, entre 2023 e 2025. Isso representa uma grande conquista para o turismo, com um instrumento reconhecido como boa prática de gestão”, pontuou.
ACESSO A RECURSOS
Com a missão de fortalecer a capacidade técnica de gestores públicos, o painel “Captação de Recursos na Plataforma TransfereGov” abordou formas eficazes de acesso a recursos federais. Gabriel Peixoto, especialista em Elaboração de Projetos, detalhou as funcionalidades e modalidades de transferências públicas disponíveis no TransfereGov, como convênios, contratos de repasse e emendas parlamentares.
A capacitação priorizou a importância de entender o processo de captação e garantir a efetiva aplicação dos recursos. “Ninguém aprende a nadar sem antes aprender a flutuar. O mesmo acontece aqui. É preciso entender o básico, como funcionam as peças, os movimentos, e só assim o município começa a caminhar sozinho, com autonomia e confiança”, exemplificou Gabriel Peixoto. Para ele, é essencial que os gestores compreendam a lógica da plataforma e invistam na qualificação das equipes, para que saibam não apenas “pedir”, mas também “executar”.
PAVILHÃO PARÁ – VITRINE PARA OS MUNICÍPIOS
Além das capacitações técnicas, o Governo do Pará, por meio da Setur, prepara uma grande ação promocional na COP30: o Pavilhão Pará, espaço turístico interativo que será montado na segunda semana do evento, de 17 a 21 de novembro. O objetivo é apresentar ao mundo a diversidade cultural, gastronômica e econômica do Estado, promovendo a imagem do Pará e criando oportunidades concretas de negócios, parcerias e investimentos para municípios paraenses.
Victor Lopes, coordenador de Marketing da Setur, explicou que a proposta é envolver os municípios na promoção do Estado, incentivando a participação de todos na visibilidade internacional. “Nós queremos que cada município tenha a chance de mostrar o que há de mais bonito e autêntico em seu território: a produção local, a cultura, o turismo, a economia criativa. Além disso, queremos fortalecer o turismo de proximidade, estimulando os próprios paraenses a conhecerem melhor o Estado”, frisou.
Outro diferencial será a integração com agentes da iniciativa privada, organizações sociais, universidades e influenciadores. A ideia é promover conexões reais entre os visitantes da COP30, moradores de Belém e representantes dos diversos territórios paraenses. “Queremos que os municípios se sintam protagonistas, e que esse espaço seja um palco para mostrar suas riquezas ao mundo”, complementou Victor Lopes.
O Pavilhão Pará contará com áreas temáticas, como um palco cultural, espaço gastronômico, estúdio de podcast, área de convivência e um ambiente “instagramável”. “Vamos oferecer uma estrutura completa, com personalização visual e espaços padronizados de 16 metros quadrados. Cada município poderá ambientar seu estande com identidade própria, respeitando o modelo definido pela comissão organizadora do Pavilhão”, explicou o coordenador.
A programação do espaço incluirá ainda apresentações culturais, rodas de conversa, ativações de marca e comercialização de produtos regionais. A praça de alimentação será um ponto alto, com restaurantes locais oferecendo pratos típicos da gastronomia amazônica.
Da Agência Pará