Da esperança à indignação: a depredação logo após a inauguração da rua da Ladeira, a primeira de Belém, por “artistas de resistência” (contém ironia) – que assinam como “PTCK” e Sauros – indignou a população e permissionários da Feira do Açaí.
Há pouco mais de uma semana após a reinauguração da Feira do Açaí e da Rua da Ladeira, em Belém, o que deveria ser motivo de orgulho virou alvo da destruição. Foram mais de R$ 60 milhões investidos na revitalização de um dos pontos mais emblemáticos da cidade, patrimônio tombado pelo Iphan, parte viva da memória cultural da capital paraense. A reforma trouxe novos boxes, iluminação moderna, rampas de acessibilidade, guarda-corpo metálico, bancos orgânicos e sinalização renovada. Tudo cuidadosamente planejado para valorizar o espaço e devolver dignidade aos trabalhadores e frequentadores do local.
No entanto, logo vieram as marcas do descaso: os bancos e placas foram pichados, a rampa de mobilidade e o guarda-corpo arrancados, como se nenhum esforço tivesse sido feito. Um ataque à cidadania, ao patrimônio coletivo, à história da cidade. É revoltante ver o espaço público ser tratado com tamanho desprezo, como se não tivesse dono, quando na verdade ele pertence a todos nós.
O episódio lembra uma passagem bíblica, quando Jesus expulsa uma legião de demônios de um homem e os envia para uma vara de porcos. Possuídos, os animais enlouquecem e se jogam num penhasco. É essa imagem que vem à mente diante da destruição injustificável do que foi feito com tanto cuidado: um “espírito de porco” – expressão popular para quem, por espírito de contradição ou simples maldade, atrapalha o que é bom, zomba do que é sério e estraga o que é de todos.
Não é possível tolerar esse tipo de conduta. A depredação do patrimônio não é arte, nem protesto. É crime. E por mais legítima que seja a resistência em contextos de opressão, não pode haver resistência contra a limpeza urbana, contra o dinheiro público investido com critério, contra a preservação do bem coletivo e, principalmente, contra a urbanidade.
A pretexto de uma arte de resistência, o patrimônio de Belém foi maculado e vilipendiado em emnos de 15 dias. Resistir é necessário, sim — mas nunca contra o que é público, coletivo e essencial para a dignidade de uma cidade.
E que Deus nos proteja dos demônios, dos espíritos de porcos e de pessoas que não respeitam e nem zelo pela cidade onde vivem.
Por Mauro Neto, jornalista