Crescimento entre jovens revela nova cara das igrejas evangélicas

Os evangélicos representam 26,9% da população brasileira com 10 anos ou mais, segundo o Censo Demográfico 2022, do IBGE. Mas é entre os mais jovens que o grupo religioso encontra maior adesão. De acordo com o levantamento, 31,6% dos adolescentes entre 10 e 14 anos se identificam como evangélicos. Entre os brasileiros de 15 a 49 anos, a participação permanece acima dos 27%.

A força da presença evangélica entre os jovens chama a atenção de líderes religiosos. Para o evangelista Guilherme Batista, idealizador do projeto O Retiro, que reúne influenciadores cristãos de todo o país, um dos principais fatores para esse crescimento é a liberdade que as igrejas passaram a dar aos jovens.

– Durante muito tempo a juventude viveu um Evangelho baseado em restrições, “não pode isso”, “não pode aquilo” e isso dificultava os jovens de viverem seus chamados e propósitos! Muitos jovens queriam fazer cultos em praças e não podiam, queriam evangelizar de formas diferentes e não eram bem aceito por seus pastores e igrejas, e isso era muito complicado – declarou ao Pleno.News.

Batista também destaca a linguagem acessível nas pregações e o protagonismo juvenil nos ministérios como fatores de atração.

– Hoje temos uma igreja livre, que tem liberdade para viver os chamados das mais diferentes formas. Por isso, creio eu, que temos tantos jovens e adolescentes que estão se apaixonando pelas coisas do Senhor! Outra coisa também, é a linguagem da mensagem que é pregada, que hoje é de fácil entendimento, levando a uma vida prática e não só teórica. Além disso, adolescentes são vivos e precisam de uma igreja viva também para que vivam a vida da igreja – completou.

O apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus no Brasil, destacou o papel decisivo dos jovens no atual cenário de avivamento espiritual no país. Fundada em 1986 por ele e sua esposa, bispa Sônia Hernandes, a Renascer sempre teve forte apelo entre o público jovem e foi pioneira na popularização da música gospel no Brasil.

– Em relação ao crescimento, notadamente entre os jovens, sabemos que isso é um avivamento daquilo que Deus tem trazido para o Brasil – afirmou.

Para o apóstolo, a juventude está no centro de um movimento espiritual transformador.

– O Brasil é um país com uma faixa etária predominantemente jovem, e hoje vemos nessa faixa uma grande receptividade ao Evangelho.

Segundo Hernandes, esse crescimento tem se dado por meio de estratégias específicas de evangelização, entre elas a música que “continua sendo um instrumento forte de atração, e as redes sociais têm sido fatores decisivos na pregação, na evangelização e no crescimento desse público jovem”.

– Isso, sem dúvida nenhuma, aponta para um futuro promissor e abençoado – concluiu.

REVERENDO LUTERANO FAZ ALERTA

Já o pastor Mário Rafael Fukue, da Igreja Luterana, aponta a busca por identidade e pertencimento como fatores centrais que justificam esses números entre o público jovem e também faz alertas e reflexões sobre esse público.

– O jovem moderno, muitas vezes sem referências sólidas na família ou na escola, encontra na fé evangélica uma narrativa clara sobre quem ele é diante de Deus, um pecador amado, redimido por Cristo. Isso oferece direção e sentido em meio à confusão existencial – declarou.

E continuou:

– Muitas igrejas evangélicas têm criado ambientes acolhedores, com grupos de jovens, retiros, louvor e discipulado. Isso promove vínculos reais, algo cada vez mais raro numa sociedade digitalizada e fragmentada.

Fukue observa ainda que a linguagem acessível, o uso da música e da mídia, e a abordagem relacional ajudam os jovens a se sentirem ouvidos e valorizados. Mas ele faz um alerta:

– Aqui reside um grande perigo para a igreja evangélica: transformar o Evangelho em um apelo emocional raso, com altas doses de dopamina de músicas envolventes, mas sem base doutrinária sólida.

O pastor ainda critica o que chama de culto à personalidade e a supervalorização de artistas gospel e isso, muitas vezes, faz parecer “que parte do crescimento do movimento evangélico é só mais uma opção de estilo de vida, dentre tantas outras, e não uma verdadeira vivência de fé”.

Como pastor luterano, Fukue defende que a centralidade do Evangelho está na fidelidade à Palavra e nos meios da graça e entende como sendo um grande risco “focar apenas em atratividade” sendo que os jovens precisam de ensinamento bíblico. Para ele, a formação desse grupo deve ser profunda e centrada na fé.

– Devemos incluir catequese, ensino bíblico regular, participação na vida litúrgica da igreja e acesso aos sacramentos. Precisamos formar jovens que saibam confessar: “Eu sou batizado”, que reconheçam o valor da Ceia do Senhor e que entendam o que é viver como nova criação em Cristo.

Segundo o Censo 2022, o percentual de evangélicos começa a cair gradualmente a partir dos 50 anos de idade. Entre os brasileiros com 80 anos ou mais, apenas 19% se declaram evangélicos. A maioria dos fiéis evangélicos é composta por mulheres (55,4%).

Do Pleno.News