Diante da crescente precarização do trabalho promovida pelas plataformas digitais, a dissertação Prevalência da síndrome de burnout entre entregadores ciclistas de aplicativo, da psicóloga Ayara Letícia Bentes da Silva, lança luz sobre os efeitos desse modelo na saúde mental de trabalhadores em Belém. O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAD) da UFPA, com orientação da professora Camila Carvalho Ramos.
A partir de um questionário aplicado a 159 entregadores (com 80 respostas válidas), a pesquisa utilizou o método Burnout Assessment Tool (BAT) para medir os níveis de esgotamento. Os resultados apontam que 30% dos ciclistas apresentaram sintomas da síndrome de burnout: 13% com risco moderado e 17% com alto risco de adoecimento.
Boa parte desses trabalhadores atua como autônomo, sem vínculo formal, arcando com todos os custos da atividade, como bicicleta, internet, alimentação e manutenção. Além disso, 94% relataram não ter acesso a locais de descanso, e 88% nunca receberam treinamento para exercer a função.
O estudo ainda destaca como a precariedade da infraestrutura urbana de Belém — com ruas mal sinalizadas, falta de ciclovias e clima adverso — agrava o desgaste físico e emocional dos entregadores.
Para Ayara, é urgente que políticas públicas sejam pensadas para proteger esses trabalhadores. Ela defende a valorização da categoria, o reconhecimento da atividade e o incentivo à organização coletiva como formas de combater a invisibilização e a vulnerabilidade dos entregadores.
Por Evelyn Ludovina/Arte: Jornal Biera Rio/UFPA