A música gospel representa hoje 20% do mercado fonográfico do Brasil, segundo dados da Pro-Música compartilhados pela Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes), um segmento que hoje é encontrado nas rádios, na televisão e ganha cada vez mais espaço nas plataformas de streaming. Mas, o sucesso registrado na atualidade foi desbravado por jovens que, no início da década de 70, começaram a usar a música como veículo para falar sobre o amor de Deus e espalhar a mensagem do Evangelho.
Essas histórias foram compartilhadas neste sábado (31), na Catedral Evangélica de São Paulo, durante a comemoração dos 10 anos do projeto Hinologia Cristã, idealizado por Robson Santos, que tem registrado a história da música cristã brasileira, alcançando milhões de visualizações no YouTube.
Entre os presentes estava o pastor Nelson Bomilcar, músico, cantor e compositor que iniciou seu ministério no grupo Vencedores Por Cristo, criado no início da década de 70, e que se tornou um dos pioneiros na produção de música gospel no Brasil.
Após contar sua história durante o podcast apresentado pelo pastor Ramon Torres, ele falou ao Pleno.News sobre como foi abrir as portas para o que hoje conhecemos como música gospel.
– Tudo que nós fizemos foi feito de modo despretensioso. Ninguém nem imaginaria onde poderia chegar aquilo que foi plantado naquele tempo. Éramos uma geração de gente comprometida com Deus, apaixonada pela evangelização, que amava a música e a arte, e sabia que a música era um instrumento maravilhoso de evangelização – disse.
Bomilcar também comparou o trabalho iniciado há cinco décadas com sementes e, hoje, olha para toda essa trajetória e consegue enxergar os frutos da dedicação que ele, juntamente com outros grupos que surgiram depois, conseguiram gerar.
– É muita alegria ver tudo que surgiu desde aquele tempo.
LEGADO PARA GERAÇÕES
Também conversamos com Williams Costa Jr., diretor mundial de comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia, compositor e maestro, que empregou todos os seus conhecimentos musicais no louvor da igreja, contribuindo assim tanto em questões de técnicas, como também nas letras, ajudando a melhorar a qualidade da música evangélica. Em seu histórico, ele tem diversas participações nos hinários utilizados na Igreja Adventista do Sétimo Dia, sendo respeitado também em outras denominações.
Ao ser questionado sobre o quanto a música religiosa mudou nas últimas décadas, ele apresenta um olhar cuidadoso, mostrando que o segmento passou pela mudança natural dos tempos.
– A música mexe com as emoções, ela tem a tendência de ficar enraizada no coração das pessoas, porque consegue cristalizar a emoção dentro dos corações. Só que a música é uma coisa viva, é dinâmica – pontuou.
Costa Jr. entende que é necessário respeitar as mudanças da música entre as gerações, e “ter a mente aberta para entender que o mover do Espírito, a inspiração de Deus, ela varia ao longo dos tempos”.
Ainda sobre gerações, ele entende que toda mudança geracional “é delicada” em todos os sentidos, mas que a música é o veículo e o que não pode ser perdido é a mensagem principal da música cristã.
– Uma pessoa de 50 anos que aprendeu a gostar de um estilo de música quando tinha 20, ele vai ter dificuldade com 50 de gostar do que o povo de 20 anos gosta. Agora, nem por isso a música perde o valor. Ela só é diferente, e isso é rico. Porque essas diferenças geram maneiras diferenciadas de compartilhar a mensagem, de levar inspiração para as pessoas. É uma bênção.
Já o cantor e compositor Genésio de Souza, autor de hinos como Seja Engrandecido, falou de uma grande diferença entre os músicos que, assim como ele, trabalharam para que a música cristã fosse relevante dentro e fora das igrejas, com os grupos que hoje fazem sucesso.
– A música hoje é comercial, quem faz, faz pensando em views, em vender, no Spotify e acaba atropelando a essência – desabafou.
Como estudioso de música e teologia, ele diz ainda que falta aos novos músicos o conhecimento dessas duas matérias que são essenciais para o ministério.
Ao ser questionado sobre o que a geração dos pioneiros da música cristã pode ensinar para a geração atual, Genésio de Souza fala em compartilhar conhecimento para que os músicos não percam o foco.
– É preciso pensar: estou cantando isso para quem e para quê? Existem três tipos de música que você pode cantar: kerigma, que é uma música que proclama o Reino de Deus, que anuncia o Reino de Deus; koinonia, que é uma música de comunhão e a música de liturgia, que eu canto para Deus, diretamente para Ele. Hoje as pessoas não fazem essa distinção, tudo é só música cristã. Então, eu vou compor, eu vou cantar, pra quem e por quê? Qual o efeito que eu quero? – ensinou.
Além deles, participaram também Nilton Tuller, Wolo, Paulo Cezar da Silva, Jasiel Botelho, Vavá Rodrigues, Edilson Botelho, Cristina Audi, Jorge Camargo, Cezar Elbert, Pedro Braconnot, Eduardo & Silvana, entre outros.
O evento foi dividido em duas partes, sendo a primeira delas a gravação de um podcast ao vivo quando cada um dos convidados contou sua história e depois um culto de ação de Graças com a participação do Grupo Prisma Brasil e do Coral Evangélico de São Paulo.
Do Pleno.News