Evento inédito em Belém debate glaucoma congênito na infância

Na segunda-feira de ontem (26), data em que se celebra o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, Belém deu um passo inédito na promoção da saúde infantil ao reunir, no auditório da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, mães de crianças diagnosticadas com glaucoma congênito, profissionais da saúde, representantes da gestão municipal e estadual e membros da iniciativa privada. O encontro, promovido pela Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) e pela Associação das Mães de Glaucoma Congênito, teve como objetivo principal dar visibilidade a uma condição oftalmológica rara, mas extremamente grave, que pode levar à cegueira ainda nos primeiros anos de vida.

Com foco na construção de uma rede de cuidado mais eficiente, integrada e sensível às necessidades das crianças e famílias, o evento discutiu estratégias para o diagnóstico precoce, tratamento cirúrgico, reabilitação visual e inclusão do tema nas políticas públicas municipais de saúde.

“É muito importante estarmos aqui, como gestão municipal, fazendo parte desse primeiro evento sobre glaucoma congênito. Estamos tratando de uma doença com sintomas silenciosos, muitas vezes imperceptíveis, especialmente para famílias que não têm acesso à informação e à educação em saúde”, destacou o secretário municipal de Saúde de Belém, Rômulo Nina. “Quantas outras crianças não conseguiram identificar o problema a tempo? Quantas não souberam onde procurar ajuda? Esse evento é o início de um movimento que precisa crescer dentro da nossa rede de atenção”, concluiu.

Uma doença rara e silenciosa

O glaucoma congênito é uma doença oftalmológica rara que pode estar presente desde o nascimento, afetando o desenvolvimento visual da criança. Os principais sinais incluem olhos maiores do que o normal (buftalmia), fotofobia, lacrimejamento constante e opacificação da córnea. Sem tratamento, o aumento da pressão intraocular pode danificar o nervo óptico e levar à cegueira irreversível.

O tratamento envolve, na maioria dos casos, cirurgia precoce para o controle da pressão intraocular, além de um acompanhamento contínuo com foco na reabilitação visual, estimulação precoce e apoio ao desenvolvimento global da criança.

Cuidado ampliado: integração e acolhimento

Presidente da Associação do Glaucoma Congênito no Pará, a fisioterapeuta Silviane Nascimento, mãe do pequeno Victor, ressaltou a importância de construir pontes entre os diversos atores da rede de saúde para garantir agilidade no atendimento e acolhimento às famílias.

“A partir do momento em que o Victor foi diagnosticado, entendi a importância de acolher outras mães que passam por esse desafio. Com a ajuda da Dra. Isabela, oftalmologista que realizou a primeira cirurgia do meu filho, passamos a orientar novas famílias diagnosticadas. Hoje temos mães de Belém, Ananindeua, Dom Eliseu e outros municípios no grupo da associação. O glaucoma não espera. A pressão ocular precisa ser normalizada o mais rápido possível. A cirurgia é fundamental, mas a estimulação visual e o acompanhamento especializado fazem toda a diferença no desenvolvimento dessas crianças”, pontuou Silviane.

Atualmente, 32 crianças vivem com o diagnóstico de glaucoma congênito e recebem acompanhamento especializado por meio da rede pública de saúde, que contempla desde o tratamento cirúrgico até o suporte em reabilitação visual e estimulação precoce.

Como funciona o atendimento na rede municipal

A diretora do Departamento de Regulação da Sesma, Thalita Fernandes, explicou como funciona o fluxo de atendimento às crianças com suspeita ou diagnóstico confirmado de glaucoma congênito.

“Tudo começa na atenção primária, nas Unidades Básicas de Saúde, onde o paciente é atendido e encaminhado para o especialista. O cadastro é inserido no sistema de regulação e nossa equipe técnica faz a triagem e direciona para os estabelecimentos adequados, dentro da nossa rede especializada para o cuidado com o glaucoma congênito”, explicou.

A manhã seguiu com a participação do enfermeiro Bruno, da equipe do Dr. Alan, do Hospital Ophir Loyola, que apresentou os procedimentos relacionados ao transplante de córnea em crianças, destacando a importância da agilidade e precisão no encaminhamento desses casos mais complexos. Encerrando a programação, a equipe multiprofissional da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Outeiro compartilhou práticas voltadas à estimulação visual precoce e ao desenvolvimento global da criança. A preparadora física Wendy, a assistente social Flaviana Souza e a terapeuta ocupacional Samara Paiva enfatizaram como o trabalho integrado entre as áreas da saúde contribui para o avanço motor, cognitivo e emocional dos pequenos pacientes, além de oferecer suporte contínuo às famílias.

O encontro representou um marco para a saúde pública da capital paraense, ao colocar na mesma mesa mães, especialistas, gestores e representantes da sociedade civil com um objetivo comum: garantir que nenhuma criança com glaucoma congênito fique sem diagnóstico, tratamento e acolhimento.

“Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, mas o nosso compromisso precisa se renovar todos os dias. Precisamos comunicar, informar e permitir que as pessoas enxerguem – no sentido literal e simbólico – a urgência desse tema”, finalizou o secretário Rômulo Nina.

Da Agência Belém