Há pelo menos cinco anos, o comerciante José Pereira, de 77 anos, enfrenta noites mal dormidas causadas pelo barulho excessivo de motocicletas com o escapamento adulterado que trafegam todas as noites na rua Dr. Freitas, na Sacramenta, onde José mora há 25 anos.
“Começa umas 22h e vai até de madrugada. São umas dez motos, depois vem outra turma e eles perturbam muito o meu sono e de minha esposa. O barulho é muito alto porque as motos não têm escapamento. No final de semana é ainda pior, o barulho aumenta mais”, desabafa Pereira.
Apesar do comerciante e da esposa dele sofrerem há anos com o problema, José confessa que nunca denunciou os condutores. “A gente sempre se incomodou, mas não tem para quem recorrer, e se arrumar briga com eles é ainda pior. Agora que estou sabendo que a prefeitura está tomando providências em relação a essa situação. Tenho esperança”, diz o comerciante. “Estou até surpreso que alguma gestão está finalmente olhando para essa questão”, acrescenta.
A poluição sonora urbana é um dos principais fatores de estresse nas grandes cidades e tem efeitos diretos na saúde física e mental da população. Em Belém, motociclistas que adulteram os escapamentos dos veículos para produzir barulho pelas ruas da cidade têm contribuído significativamente para o problema no trânsito da cidade. É o que explica o Secretário Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade (Segbel), Cláudio Luciano Monteiro de Oliveira. “Aproximadamente 70% das infrações de trânsito são praticadas por veículos de duas rodas, e a adulteração dos escapamentos está entre elas”, relata.
BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO
Para restabelecer a ordem urbana e garantir o bem-estar da população, o Programa Belém em Ordem, iniciativa da Prefeitura de Belém, realizada por meio da Segbel, tem intensificado as fiscalizações e mirado em motocicletas com os escapamentos adulterados nas ruas. Na última quarta-feira (14), uma megaoperação destruiu mil escapamentos adulterados de motocicletas apreendidas em fiscalizações. A ação ocorreu no pátio de Retenção de Veículos da Segbel, no bairro da Marambaia, e foi acompanhado de perto pelo prefeito Igor Normando.
A ação municipal repercutiu e moradores de diversos bairros aprovam a iniciativa. Na Pedreira, Ana Júlia Cardoso, de 25 anos, sofre com a família por causa do barulho e espera que a ação coíba, de vez, esse tipo de infração.
“Até por questão de respeito à população. Moro com a minha avó, de 81 anos, que não consegue descansar, porque essas motos passam fazendo um barulho muito alto. E ainda tem uma mãe com a sua filha neném, que mora comigo, que se assusta muito com o barulho. Quando as motos passam de madrugada, a neném chora e começa a gritar, aí todo mundo acorda. O sono de todo mundo lá em casa é bem prejudicado”, relata Ana.
INFRAÇÃO
Motociclistas que adulteram os escapamentos dos veículos para produzir barulho infringem diversas leis, como o Código de Postura do Município de Belém e o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
De acordo com o secretário da Segbel, a legislação de trânsito prevê penalidades para as pessoas que fazem adulteração do escapamento de suas motos. “Nós realizamos a retenção do veículo até que o problema seja resolvido, ou seja, a moto só sai do nosso pátio após a troca do escapamento. E também há a aplicação de multa para esse condutor”, explica Oliveira.
A professora Carmem Cunha, de 55 anos, mora no Marco desde que nasceu e também testemunha o desrespeito de muitos motociclistas não só no bairro dela. “Eu dirijo e ouço esse barulho ensurdecedor em todos os lugares da cidade. É no momento que estou dirigindo que as motos me incomodam mais, porque você não tem paz em rua nenhuma. Mesmo com o vidro fechado, o barulho das motos é muito alto e desconcentra, e isso pode causar acidentes, atropelamentos, uma série de perigos. A ação da prefeitura está perfeita”, opina a professora.
Carmem mora próximo ao hospital Porto Dias e também relata que já visitou um parente internado no local e notou que as motos também incomodam os pacientes. “Quando estive por lá dava para escutar as motos sem escapamento, o que é um absurdo. O hospital é um local que deve ter silêncio absoluto, é um local de tratamento, tem que ter respeito”, completa a moradora.
Segundo Luciano, a Prefeitura de Belém está atenta à situação e, por isso, há um direcionamento da fiscalização específica para motocicletas. O secretário ressalta que não há nenhuma discriminação em relação aos motociclistas e aqueles que cumprem a lei podem dirigir sem preocupação de serem incomodados. “Agora os que não cumprem a lei, nós vamos aumentar ainda mais a fiscalização”, adverte.
Da Agência Belém