O papa Francisco completou ontem, 12, 12 anos de pontificado e o faz no hospital, onde se recupera de sérios problemas respiratórios, enquanto o mundo inevitavelmente pensa no futuro da Igreja. Aos 88 anos e sofrendo de problemas de saúde, a incerteza é se ele sairá do hospital com as forças necessárias para continuar seu pontificado ou se, em qualquer dos casos, o próximo papa manterá uma mentalidade reformista ou retornará ao conservadorismo do passado.
MAIOR PRESENÇA DE MULHERES NA IGREJA
Antes de ser internado no hospital em 14 de fevereiro, o papa vinha promovendo um dos objetivos de seu pontificado: uma maior presença de mulheres na Igreja e em cargos de maior poder.
E nomeou a freira Raffaella Petrini como a primeira mulher presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, órgão que exerce o poder executivo na Santa Sé, do qual ela já era secretária-geral. Mesmo quando foi nomeada secretária do Governatorato em 2021, ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo.
Algumas semanas antes, Francisco nomeou a também freira Simona Brambilla, como prefeita (ministra) do Dicastério dos Institutos de Vida Consagrada: a primeira mulher a chefiar um dicastério, algo antes geralmente reservado aos cardeais.
REFORMA ECONÔMICA
Nestes 12 anos, uma das conquistas do papa foi a reformulação completa da gestão dos cofres do Vaticano, que no passado foi alvo de enormes irregularidades, como demonstrado em vários processos, incluindo o que condenou o cardeal Angelo Becciu, ex-substituto da Secretaria de Estado.
Com a criação da Secretaria da Economia, que administra todos os ativos imobiliários e também os fundos antes disponibilizados à Secretaria de Estado, o papa trouxe transparência e, sobretudo, controle às contas, que, em última análise, também são públicas. Além de aprovar medidas para reduzir os gastos dos cardeais e criar uma comissão para arrecadar fundos em resposta à queda nas doações.
A LUTA CONTRA A PEDOFILIA
Ao chegar ao chamado Trono de Pedro, o pontífice argentino deixou clara a importância de combater a pedofilia dentro da Igreja e ouvir as vítimas, para isso, criou a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, que recentemente exigiu que fornecesse um relatório anual sobre como está progredindo a luta contra os abusos.
Nos últimos anos, também fez dezenas de intervenções legislativas e até mesmo eliminou o segredo papal nesses casos e forçou as dioceses de cada país a lidar com eles. No entanto, isso está falhando, pois a Igreja não levou a sério obrigações como criar centros de atendimento às vítimas.
Enquanto isso, o Vaticano continua sem rapidez e transparência na denúncia de casos de abuso e na condenação dos padres envolvidos.
UMA IGREJA MENOS ITALIANA
Por quase nove anos, o papa e uma comissão de nove cardeais trabalharam para promulgar a nova Constituição Praedicate Evangelium (Pregar o Evangelho), que reforma a administração do Vaticano e seus vários dicastérios (ministérios).
Francisco também deixou seu legado com a eleição de 80% dos cardeais que elegerão o novo pontífice, mudando completamente a distribuição geográfica do Colégio Cardinalício, com muito mais representantes de países distantes, de Ásia e África, que não conseguiram espaço na Capela Sistina, e uma menor representação de Europa e Itália.
Embora isso não signifique que o próximo conclave estará alinhado com as ideias de Jorge Bergoglio.
A OPOSIÇÃO QUE FALARÁ NO PRÓXIMO CONCLAVE
Todas essas mudanças, como a bênção de casais homoafetivos, geraram resistência contra Francisco nos últimos 12 anos, com o segmento mais ultraconservador da Igreja Católica expressando abertamente sua oposição a qualquer decisão tomada pelo pontífice.
Essa ala poderia tomar a palavra durante o conclave para interromper reformas e reverter algumas questões elegendo um papa menos ativo ou um pontífice de transição.
Com informações da Agência EFE