Sem a aprovação do pacote fiscal – e com o choque de juros recém-anunciado pelo Banco Central, já com indicação de novas altas futuras –, assessores presidenciais passaram a temer que o Brasil entre em recessão no próximo ano.
Segundo auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a elevação de 1 ponto percentual na Selic na quarta foi superior à esperada pelo governo. Pior que isso: o BC alertou que a trajetória de alta será mantida em 2025.
Assessores torciam por uma alta de 0,5 ponto e esperavam, no máximo, uma decisão de 0,75. Agora, receberam um sinal: sem a mensagem clara de que o ajuste fiscal será suficiente para equilibrar as contas públicas, o trabalho de conter a inflação ficará só com o Banco Central.
O choque de juros veio na última reunião de Roberto Campos Neto como presidente do BC, muito criticado pelo presidente Lula.
Acontece que, mais uma vez, a decisão foi unânime – com os votos dos quatro diretores indicados por Lula, inclusive o de Gabriel Galípolo, que irá presidir a autoridade monetária a partir de janeiro.
Por sinal, em 2025, o BC terá uma maioria de diretores indicados pelo atual presidente: sete dos nove integrantes da diretoria foram escolhidos pelo governo Lula. Três foram aprovados nesta semana e tomam posse em janeiro, quando Galípolo vai substituir Campos Neto no comando do BC.
Ou seja: se os juros continuarem subindo – o que vai acontecer, se o ajuste fiscal não se concretizar –, Lula e o PT não terão como culpar um BC bolsonarista por elevar os juros.
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Pacote fiscal é a aposta
Agora, a expectativa da equipe de Lula é que o pacote fiscal seja aprovado para que o BC interrompa ainda no primeiro semestre a alta da taxa Selic, tendo condições de começar a sinalizar uma queda para evitar uma desaceleração forte da economia.
Neste ano, o PIB deve surpreender mais uma vez e crescer 3,5%.
No ano que vem, no entanto, o mercado de crédito já vai começar a sofrer com as altas da taxa Selic iniciadas no segundo semestre deste ano, contribuindo para encarecer o custo das empresas e das famílias, reduzindo consumo e investimentos.
“O BC foi claro. O governo e o Congresso precisam aprovar o pacote fiscal. Não há outra saída. Caso contrário, o país vai desacelerar e pode entrar em recessão, o que será péssimo para um terceiro ano de mandato”, desabafa um interlocutor direto do presidente Lula.
Votação de propostas de cortes de gastos na Câmara deve ficar para semana que vem
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Por Valdo Cruz
Comentarista de política e economia da GloboNews.
Evolução da Taxa de Juros no governo Lula — Foto: Arte/g1