A primavera começou no domingo, dia 22 de setembro, mais precisamente às 9h44 da manhã, pelo horário de Brasília.
Embora as estações do ano não sejam tão bem definidas pelo clima no Brasil, diferente de como elas são em grande parte dos países do hemisfério Norte, algumas mudanças podem ser sentidas por aqui.
A fase atual costuma apresentar uma elevação das temperaturas, da incidência solar, da frequência de chuvas e da umidade, além de um crescimento da concentração de pólen na natureza.
Os impactos para a saúde tendem a ser mais significativos principalmente para pessoas que apresentam doenças crônicas, como asma, rinite alérgica e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Rinite, asma e conjuntivite
No Brasil, o período da primavera pode trazer uma piora dos quadros de alergia, associados principalmente à mudança brusca de temperatura. Especificamente em 2024, o tempo contribuiu muito para o agravamento dos sintomas de pessoas com rinite alérgica, asma e conjuntivite alérgica.
“Os extremos de frio e calor e a pouca umidade no ar favorecem o aparecimento de coriza e obstrução nasal, tosse e olho seco. Estas queixas são muito mais intensas nos alérgicos, quando comparados com o restante da população”, afirma o médico Fausto Yoshio Matsumoto, membro do departamento científico de rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Ao contrário do que pode-se imaginar, o pólen não é um gatilho de alergia tão importante assim na maior parte do país. A rinite sazonal, que acontece após contato com a substância, é mais comum em países do hemisfério Norte.
“No Brasil, a rinite alérgica é predominantemente desencadeada por outros alérgenos como os ácaros domiciliares, pelos de animais, como cães e gatos, e fungos presentes no mofo. Esse tipo de rinite, chamada de perene, compromete o paciente durante todo o ano”, pontua Matsumoto.
Contudo, em locais onde há intensa polinização, como a região Sul e áreas com foco na produção de flores, o cenário é diferente.
“Uma vez em contato com um alérgeno, no caso o pólen, nosso corpo desencadeia uma série de eventos que geram coceira nos olhos e nariz, espirros, congestão nasal, coriza, lacrimejamento ou vermelhidão ocular. Em casos mais graves, pode haver falta de ar, tosse e outros sintomas mais característicos de asma”, explica o especialista da Asbai.
Para pessoas com doenças crônicas, é essencial o controle dos sintomas, com acompanhamento médico periódico. Nesse contexto, manter os ambientes higienizados e o afastamento de possíveis gatilhos são ações de prevenção que ajudam a evitar as crises.
“A principal recomendação é não usar medicamentos de forma indiscriminada e sem indicação médica. Vejo um uso excessivo de antibióticos e corticosteroides em situações em que não são recomendados. A segunda é controlar o ambiente onde se vive para manter livre de poeira. Por fim, aumentar a hidratação”, frisa o médico pneumologista Marcelo Rabahi, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dermatite, urticária e acne
As mudanças ambientais da primavera, como o aumento da temperatura e da umidade, além da floração, podem provocar várias condições de pele.
“Dentre as mais comuns, estão a dermatite alérgica de contato e a urticária, causadas pela exposição ao pólen, à poeira e a outros alérgenos que estão mais presentes no ar”, afirma a médica Rosemarie Mazzuco, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção Rio Grande do Sul (SBD-RS).
Na verdade, a própria virada de estação afeta a barreira protetora da derme, de acordo com um estudo publicado no British Journal of Dermatology.
A barreira cutânea, formada principalmente por lipídios e proteínas, atua como uma proteção natural contra agentes externos, evitando a perda excessiva de água e prevenindo a entrada de substâncias nocivas.
“Como a pele é o órgão que mais está em contato com o ambiente externo, ela sofre mais com qualquer variação nas características desse ambiente. Quando ocorrem mudanças sazonais, como aumento ou queda brusca de temperatura e umidade, essa barreira pode se desestabilizar”, afirma Rosemarie.
A exposição solar, mais comum nesta estação, tende a agravar manchas, como o melasma, e outras doenças relacionadas à fotossensibilidade, como lúpus, rosácea e erupções inflamatórias.
Além disso, a elevação da umidade está relacionada ao aumento da oleosidade.
“A pele, especialmente em pessoas com predisposição à acne, pode produzir mais sebo, o que facilita o entupimento dos poros e o surgimento das espinhas. Outro efeito comum é a piora de condições inflamatórias, como a dermatite seborreica, que pode se agravar com a umidade excessiva”, pontua Rosemarie.
Além disso, áreas corporais que tendem a transpirar mais, como axilas, virilha e dobras da pele, ficam mais suscetíveis a infecções, como a candidíase, devido ao ambiente quente e úmido que favorece o crescimento de fungos e bactérias.
Na primavera, é essencial ajustar os cuidados com a pele para lidar com as condições específicas dessa estação. Aqui estão algumas dicas importantes elencadas pela presidente da SBD-RS:
Hidratação leve: mesmo com o aumento da umidade, a pele ainda precisa de hidratação, porém, opte por loções mais leves e com fórmulas oil-free para evitar a sensação de oleosidade.
Proteção solar: o uso de filtro solar deve ser intensificado, principalmente com a exposição solar crescente. Produtos com FPS acima de 30, com ampla proteção UV, são recomendados. Mas, atenção, optar por produtos que também tenham textura leve, sem óleo.
Limpeza adequada: manter a pele limpa ajuda a remover o excesso de oleosidade e impurezas acumuladas ao longo do dia. Utilize sabonetes suaves e adequados ao seu tipo de pele.
Controle de alergias: como há mais pólen e outros alérgenos no ar, é importante ficar atento ao aparecimento de dermatites ou eczemas e, se necessário, busque orientação médica para o uso de antialérgicos tópicos ou orais.
Umidade nas dobras da pele: seque bem as áreas após o banho e considere o uso de pós antifúngicos, se necessário, para prevenir infecções.
Sarampo, caxumba, rubéola…
Algumas infecções que afetam principalmente crianças também ganham impulso na primavera.
Sarampo, caxumba e rubéola são doenças virais altamente contagiosas que podem dar as caras. Em comum, elas podem apresentar complicações, com riscos de hospitalização e de morte. A prevenção é feita pela vacinação com a tríplice viral, que faz parte do calendário de imunização infantil.
A catapora também é facilmente transmitida entre pessoas. Para crianças, a evolução do quadro tende a ser boa. Para adolescentes e adultos, a doença pode ser mais intensa. Os sinais mais graves envolvem a inflamação do cérebro, pneumonia e infecções na pele e ouvido. Também chamada de varicela, pode ser prevenida por vacinação.
Outro problema mais frequente na primavera é a escarlatina, condição causada pela bactéria Streptococcus pyogenes. O agente, também conhecido como Estreptococos do grupo A, é transmitido pelo contato próximo com pessoas infectadas, mesmo assintomáticas, através de gotículas de saliva ou secreções contaminadas.
A prevenção inclui boas práticas de higiene e o isolamento daqueles com a doença até a melhora completa da febre ou durante o primeiro dia de uso do antibiótico adotado no tratamento.
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Fonte Saúde Abril
Por Lucas Rocha
(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)