Ataque do Irã mostra hesitação em entrar em guerra com Israel

“Performática”, “telegrafada” e “ineficiente”. Foi assim que os ataques feitos pelo Irã contra Israel foram qualificados por militares americanos e europeus. A avaliação por parte de diplomatas na região é de que Teerã apenas tomou a iniciativa com dois objetivos: atender e justificar à opinião pública doméstica a narrativa de que irá se defender contra qualquer ataque israelense, além de sinalizar ao Ocidente e aos israelenses que deve haver uma fronteira para o que será autorizado ocorrer enquanto a crise em Gaza não é solucionada.

Os mísseis e drones foram lançados como respostas ao bombardeiro que o consulado iraniano sofreu em Damasco, no dia 1º de abril. O ataque resultou na morte de uma alta autoridade da Guarda Revolucionária iraniana.

Para analistas e diplomatas, porém, a forma pela qual o ataque foi realizado e a “lentidão e alertas” mostraram que o Irã não quer e não pode enfrentar o poderio militar israelense. Israel disse que interceptou 99% dos mais de 300 drones e mísseis disparados pelo Irã.

Negociadores ocidentais em postos no Oriente Médio explicaram ao UOL que os eventos, ainda que perigosos e alarmantes, serviram para confirmar que o Irã não quer um confronto direto com Israel e o Ocidente.

Outra constatação foi a ajuda que Israel obteve de outros países da região, em especial a Jordânia.

Também ficou evidenciado que, apesar das últimas tensões entre Washington e Tel Aviv, o governo americano não hesitou em sair ao apoio militar de Israel.

Para diplomatas no Oriente Médio, a “bola agora está com Benjamin Netanyahu”, o primeiro-ministro de Israel. Em apuros com seu público doméstico, ele tem interesse em manter a ideia de uma ameaça externa como forma de legitimar seu poder e sua ação contra o Hamas em Gaza.

Mas, desde ontem, vem sofrendo pressões por parte do governo americano de Joe Biden para que não reaja e que se limite a interceptar drones e mísseis iranianos.

Já Teerã, usando a embaixada da Suíça no país, enviou uma mensagem ao governo dos EUA para alertar aos americanos para que não se envolvam.

O Irã afirmou neste domingo ter encerrado a operação contra Israel. O chefe das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, indicou que o ataque na noite de sábado “atingiu todos os seus objetivos” e que Teerã não tem “nenhuma intenção” de dar sequência à operação.

 

RISCOS

Apesar de um ato aparentemente calculado, o temor na ONU é que o gesto saia do controle e que a região mergulhe num confronto com consequências imprevisíveis.

“O ataque só aumenta o fogo em toda a região. Lembro a todas as partes de suas obrigações de acordo com a lei humanitária internacional e a lei internacional de direitos humanos”, alertou neste domingo o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk.

“Estou profundamente preocupado com o possível custo humanitário e de direitos humanos se essa escalada levar a um conflito mais amplo no Oriente Médio”, disse.

Ele pediu que “todas as partes a tomarem medidas para diminuir a escalada da situação e conclamo os Estados terceiros, em especial aqueles com influência, a fazerem tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que não haja mais deterioração em uma situação já extremamente precária”.

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Por Jamil Chade

Colunista do UOL, em Genebra