Dispensando apresentações, embora a Torre Eiffel seja um dos pontos turísticos mais famosos do mundo, pouco se fala sobre sua jornada de construção: ela foi erguida em tempo recorde e se tornou um dos maiores feitos do setor da engenharia. Para além da parte técnica, você sabia, por exemplo, que a Torre nasceu em comemoração a um marco histórico da França? Ou ainda que ela carrega o nome de quem a projetou? Saiba mais abaixo!
Esta é mais uma reportagem de uma série especial sobre megaprojetos ao redor do mundo. O Olhar Digital já abordou também a construção dos diques da Holanda e da hidrelétrica de Itaipu, no Brasil, a maior do mundo em energia acumulada.
Uma torre de 300 metros de altura
O design da Torre Eiffel nasceu de um concurso lançado em 1886 na França que buscava um projeto diferenciado para servir de entrada para a Exposição Universelle, realizada em 1889. Projetada por Gustave Eiffel, a ideia de uma torre com design separado na base e unido no topo foi escolhida entre outros 107 projetos devido sua ousadia: erguer no Campo de Marte, em Paris, uma torre de ferro treliçada com base quadrada de 125 metros de largura e 300 metros de altura.
O projeto passou, claro, por uma simplificação e ajustes até se tornar o monumento que conhecemos hoje – mas nada que alterasse a ideia original, os famosos restaurantes da Torre por exemplo, estavam no projeto desde seus primeiros rascunhos. Com início das obras em janeiro de 1887, a Torre Eiffel foi inaugurada em 31 de março de 1889, com sua construção sendo concluída em tempo recorde – 2 anos, 2 meses e 5 dias.
Considerado um projeto inovador e moderno, a Torre tornou-se símbolo de proeza tecnológica no final do século XIX, sendo uma demonstração da engenharia francesa personificada, e um momento marcante da era industrial.
Cópias dos originais das plantas de Gustave Eiffel, retiradas do livro La Tour de 300 mètres, Ed. Lemercier, Paris 1900/via portal Torre Eiffel
Para construir a Torre Eiffel foram necessários:
18.038 peças metálicas;
5.300 projetos de oficina;
50 engenheiros e designers;
150 trabalhadores na fábrica Levallois-Perret;
Entre 150 e 300 trabalhadores no canteiro de obras;
2.500.000 rebites;
7.300 toneladas de ferro;
60 toneladas de tinta.
A construção foi feita em partes, quase como um ‘monta-monta’, com trabalhadores encaixando peça por peça, mas tudo de forma muito personalizada.
Todos os elementos foram preparados na fábrica da Eiffel localizada em Levallois-Perret, nos arredores de Paris. Cada uma das 18 mil peças utilizadas para construir a Torre foi especificamente projetada e calculada, traçada com precisão de um décimo de milímetro e depois montada formando novas peças com cerca de cinco metros cada. Uma equipe de construtores, que trabalhou nos grandes projetos de viadutos metálicos, foi responsável pela montagem de 150 a 300 trabalhadores no local deste gigantesco conjunto montador.
Portal oficial da Torre Eiffel.
Todas as peças metálicas da torre são unidas por rebites (fixador metálico), um método de construção bem refinado na época em que a Torre foi construída. A dinâmica era a seguinte:
As peças da Torre eram montadas na fábrica com parafusos;
Depois, eles eram substituídos um a um por rebites montados termicamente, que se contraíam durante o resfriamento garantindo assim um encaixe muito justo;
Era necessária uma equipe de quatro homens para cada rebite montado: um para aquecê-lo, outro para mantê-lo no lugar, um terceiro para moldar a cabeça e um quarto para martelá-lo;
Apenas um terço dos 2.500 rebites utilizados na construção da Torre foram inseridos diretamente no local.
Vale pontuar que a Torre repousa sobre uma fundação de concreto instalada alguns metros abaixo do nível do solo, sobre uma camada de cascalho compactado. Para subir a construção, andaimes de madeira e pequenos guindastes a vapor foram montados na própria torre. Em 7 de dezembro de 1887, foi concluída a junção das vigas principais até o primeiro nível.
Foram necessários apenas cinco meses para construir as fundações e vinte e um para terminar a montagem das peças metálicas da Torre. Considerando os meios rudimentares disponíveis naquele período, esta poderia ser considerada uma velocidade recorde. A montagem da Torre foi uma maravilha de precisão, como concordam todos os cronistas da época. As obras foram iniciadas em janeiro de 1887 e concluídas em 31 de março de 1889. Na estreita plataforma no topo, Eiffel recebeu a condecoração da Legião de Honra.
A Torre Eiffel hoje
Importante mencionar que, embora a Torre Eiffel leve apenas o nome de Gustave Eiffel, o projeto recebeu os insights de Maurice Koechlin e Emile Nouguier, ambos engenheiros, e Stephen Sauvestre, arquiteto (ele quem consolidou os quatro primeiros restaurantes da Torre, no primeiro andar).
Estes quatro estabelecimentos foram demolidos posteriormente para a Exposição Internacional de 1937, o que levou à remodelação completa do primeiro andar da Torre. Após diversas reformas, hoje, o primeiro andar acopla apenas o Madame Brasserie. No segundo andar, considerado o coração da Torre Eiffel, fica o restaurante Le Jules Verne. A estrutura possui ainda salões para eventos e um bar no topo.
Desde a década de 1980, o monumento tem sido regularmente renovado, restaurado e adaptado para um público cada vez maior. Ao longo das décadas, a Torre Eiffel viu conquistas notáveis, espetáculos de luzes extraordinários e visitantes de prestígio.
O monumento é, hoje, o mais visitado do mundo: ele recebe quase 7 milhões de visitantes por ano (cerca de 75% dos quais são estrangeiros), tornando-se o monumento mais visitado do planeta.
Torre Eiffel: um pouco de história
Mas por que queriam um monumento diferenciado para a Exposição Universelle? O nascimento da Torre Eiffel veio em comemoração a um marco histórico da França, e por isso queriam algo grande e representativo o bastante: era o centenário da Revolução Francesa.
A Exposição Universelle foi um evento que comemorou a Queda da Bastilha, uma prisão na França que remetia ao Antigo Regime do país. A tomada do local pela população deu início a uma revolução, tornando-se o ponto de partida central para o movimento que chamamos hoje de Revolução Francesa.
Além de comemorar o marco, a estreia da Torre Eiffel também foi vista como uma forma de estimular a economia e tirar a França de uma recessão econômica, já que a exposição atraiu mais de 61 mil expositores oficiais, dos quais 25 mil eram de fora da França. O evento recebeu cerca de 32 milhões de visitantes – o Brasil participou.
O Campo de Marte, bem como a Torre Eiffel, é desde então um dos locais mais visitados por turistas de todo o mundo.
“Uma Torre inútil e ridícula dominando Paris”
Embora hoje pareça um ultraje uma frase como a do subtítulo acima, foram nessas condições que a Torre Eiffel se ergueu: em meio as críticas e debates vindas dos maiores nomes da Arte e da Literatura mundial da época.
Vários panfletos e artigos foram publicados ao longo do ano de 1886, indo contra a construção do projeto. Em fevereiro de 1887, O “Protesto contra a Torre de Monsieur Eiffel” foi assinado por grandes nomes do mundo da literatura e das artes e publicado no jornal Le Temps. Monsieur Alphand era o diretor de obras da Feira Mundial (Exposição de Universelle).
Viemos, nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos, amantes da beleza de Paris até agora intacta, protestar com todas as nossas forças e com toda a nossa indignação, em nome do gosto subestimado dos franceses, em nome da arte e da história francesas ameaçadas, contra a construção, no coração da nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel.
Para compreender o que estamos argumentando basta imaginar por um momento uma torre de altura vertiginosa e ridícula dominando Paris, tal como uma gigantesca chaminé negra de uma fábrica, cuja massa bárbara esmaga e humilha todos os nossos monumentos e menospreza as nossas obras de arquitetura, o que apenas irá desaparecer diante desta loucura estupefata.
Trecho do Protesto contra a Torre de Monsieur Eiffel, de 1887.
Entre outros comentários da época, nos quais a comunidade artística não ‘pegava leve’, estavam ainda:
“este poste de luz verdadeiramente trágico” (Léon Bloy);
“esta pirâmide alta e estreita de escadas de ferro, este esqueleto gigante e desajeitado sobre uma base que parece construída para carregar um monumento colossal de Ciclope, mas que simplesmente se esgota em uma forma ridiculamente fina como uma chaminé de fábrica” (Maupassant);
“um tubo de fábrica pela metade, uma carcaça esperando para ser reforçada com pedra ou tijolo, uma grelha em forma de funil, um supositório cheio de buracos” (Joris-Karl Huysmans).
Em uma entrevista ao jornal Le Temps, também em 1887, Eiffel respondeu aos protestos dos artistas explicando sua doutrina artística e reafirmando que o projeto foi baseado em cálculos matemáticos para que não trouxesse apenas uma beleza diferente, mas força e harmonia.
Sustento que a curvatura das quatro bordas exteriores do monumento, tal como o cálculo matemático determinou que deveria ser, dará uma grande impressão de força e beleza, pois revelará aos olhos do observador a ousadia do projeto como um todo. Da mesma forma, os muitos espaços vazios incorporados nos próprios elementos da construção mostrarão claramente a preocupação constante em não submeter quaisquer superfícies desnecessárias à ação violenta dos furacões, que poderiam ameaçar a estabilidade do edifício. Além disso, há uma atração no colossal e um deleite singular ao qual as teorias comuns da arte dificilmente são aplicáveis.
Gustave Eiffel à Le Temps em fevereiro de 1887.
Desde sua inauguração, em 1889, a Torre Eiffel já recebeu quase 300 milhões de visitantes de todo o planeta.
Gustave além da Torre Eiffel: a Estátua da Liberdade
Engenheiro de formação, Eiffel fundou e desenvolveu uma empresa especializada em estruturas metálicas, cujo maior feito foi a Torre Eiffel. Apesar disso, o especialista e pesquisador desenvolveu muitos outros projetos que ganharam notoriedade pelo mundo, é o caso do:
Viaduto do Porto sobre o rio Douro, inaugurado em 1876;
Viaduto Garabit, uma ponte ferroviária em arco, lançada em 1884 na estação ferroviária de Pest na Hungria;
A cúpula do Observatório de Nice, observatório astronômico localizado na cidade de Nice, França, de 1886;
E a Estátua da Liberdade – sim, a que fica em Nova York. O monumento foi projetado pelo escultor francês Frédéric Auguste Bartholdi e construída por Gustave Eiffel, em 1886.
Seus feitos na engenharia terminaram em 1889, com a Torre Eiffel. A data marcou ainda o fim de sua carreira como empresário, isso após polêmicas com o escândalo financeiro da construção do canal do Panamá, também sob seu nome. Ele dedicou então os próximos 30 anos da vida à pesquisa científica, área na qual também realizou contribuições significativas. Eiffel morreu em 27 de dezembro de 1923, aos 91 anos.
Tamires Ferreira/Olhar Digital