Alexei Navalny: quem foi o opositor de Putin que morreu em prisão

O principal líder da oposição russa na última década, Alexei Navalny, faleceu em uma prisão no Círculo Polar Ártico, conforme comunicado do serviço penitenciário local divulgado na sexta-feira (16/2). Reconhecido como o crítico mais incisivo do presidente Vladimir Putin, Navalny, de 47 anos, cumpria uma sentença de 19 anos por condenações amplamente consideradas como motivadas politicamente pela comunidade internacional.

No final do ano passado, Navalny foi transferido para uma colônia penal no Ártico, destacada como uma das prisões mais severas da Rússia. O serviço penitenciário do distrito de Yamalo-Nenets informou que Navalny “não se sentiu bem” após uma caminhada. Ele “perdeu a consciência quase imediatamente”, conforme declarado no comunicado, acrescentando que uma equipe médica de emergência foi prontamente acionada e tentou reanimá-lo, sem sucesso. A causa da morte está sendo investigada pelos médicos de emergência.

Putin foi informado da morte de Alexei Navalny, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

A agência oficial de notícias Interfax noticiou que uma ambulância chegou à colônia em sete minutos e que paramédicos tentaram por meia hora ressuscitar Navalny.

“O tempo de viagem da equipe da ambulância demorou menos de sete minutos. Os médicos chegaram ao território da colônia para atender o paciente em dois minutos”, disse o Hospital Municipal de Labytnang, citado pela agência.

“Os médicos que chegaram ao local deram continuidade às medidas de reanimação que já haviam sido prestadas pelos médicos da colônia. E eles ficaram mais de meia hora. No entanto, o paciente morreu”,

Ainda não há confirmação independente desta informação.

O advogado de Navalny, Leonid Solovyov, disse à imprensa russa que não comentaria nada por enquanto. Ele está a caminho da colônia.

Quem foi Alexei Navalny?

Navalny ganhou destaque internacional ao denunciar a corrupção governamental, rotulando o partido Rússia Unida, liderado por Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Ao longo de sua vida, enfrentou diversas penas de prisão e contava com milhões de seguidores em suas redes sociais.

Em 2011, foi detido por 15 dias após protestos contra alegada fraude eleitoral do partido Rússia Unida nas eleições parlamentares. Em julho de 2013, foi brevemente preso sob a acusação de peculato, contestando a sentença como uma manobra política. Em 2018, tentou concorrer à presidência russa, mas foi impedido devido a condenações anteriores por fraude, alegando novamente motivação política.

Em julho de 2019, foi condenado a 30 dias de prisão por organizar protestos não autorizados, durante os quais adoeceu. Diagnosticado pelos médicos com “dermatite de contato”, Navalny sugeriu a possibilidade de envenenamento, pois nunca havia tido reações alérgicas agudas. Em 2017, sofreu uma grave queimadura química no olho direito após um ataque com um corante antisséptico. Sua Fundação Anticorrupção foi declarada oficialmente um “agente estrangeiro” em 2019, sujeitando-a a maiores controles estatais.

Envenenamento e Desdobramentos

Em agosto de 2020, Navalny passou por um mal-estar durante um voo da Sibéria para Moscou, levando o avião a fazer um pouso de emergência em Omsk, onde foi transferido às pressas para a UTI. Posteriormente, após negociações de alto nível com autoridades russas, foi transportado para Berlim, onde recebeu tratamento enquanto permanecia em coma induzido.

O governo alemão afirmou que Navalny foi envenenado por uma substância sofisticada conhecida como Novichok, intensificando as suspeitas de envolvimento do Estado russo no envenenamento. O Kremlin, no entanto, sempre refutou essas acusações. Essas substâncias neurotóxicas, usadas em pó ou líquido, são tão perigosas que apenas laboratórios avançados, geralmente propriedade ou controlados por governos, podem produzi-las.

Inicialmente, acreditava-se que o envenenamento ocorreu por meio do chá que Navalny ingeriu naquele dia. No entanto, após sua recuperação, ao se passar por uma autoridade de segurança, conseguiu obter informações de um especialista em armas que supostamente admitiu o envenenamento. Alegou-se que a maior parte do agente químico foi colocada em sua cueca, uma acusação negada pelo governo russo.

Ao relatar seus sintomas inicialmente, Navalny mencionou calafrios sem dor. Em janeiro de 2021, ao retornar à Rússia pela primeira vez após o envenenamento, foi detido em Moscou por supostas violações de uma sentença suspensa de anos atrás. Um tribunal moscovita posteriormente o condenou a três anos e meio de prisão por não cumprir regularmente as condições da pena suspensa.

A prisão de Navalny desencadeou protestos em toda a Rússia, apesar da forte presença policial, sendo condenada pela União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, que exigiram sua libertação imediata. Após a prisão, Navalny acusou Putin de utilizar recursos ilícitos para construir uma mansão extravagante no Mar Negro, avaliada em R$ 7,2 bilhões e 39 vezes o tamanho do principado de Mônaco. Um vídeo produzido por Navalny sobre a suposta propriedade de Putin acumulou mais de 100 milhões de visualizações nas redes sociais.

Tratamento Rigoroso e Repercussões Internacionais

Após ser condenado à prisão em fevereiro de 2021, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos determinou a libertação imediata de Navalny devido ao risco à sua vida, mas a Rússia rejeitou essa decisão. Iniciou uma greve de fome, protestando contra a recusa das autoridades da colônia penal em fornecer tratamento adequado para problemas nas pernas e nas costas. A Anistia Internacional inicialmente retirou o status de prisioneiro político de Navalny, mas posteriormente voltou atrás, admitindo ter sido alvo de uma “campanha orquestrada”.

Durante esse período, vídeos surgiram revelando comentários xenófobos feitos por Navalny, não desmentidos. Em vídeos de 2007, comparou conflitos étnicos a cáries dentárias e imigrantes a baratas. Além disso, afirmou que a Península da Crimeia “pertence à Rússia”, contrariando a condenação internacional da anexação do território ucraniano pela Rússia em 2014.

Em junho de 2022, descobriu-se que Navalny não estava mais na prisão original, sendo transferido para a prisão IK-6, a mais de 249 quilômetros a leste de Moscou, onde foi repetidamente colocado em confinamento solitário. Em agosto de 2023, uma nova sentença ampliou sua pena para 19 anos e o transferiu para uma colônia penal de segurança máxima, normalmente reservada aos criminosos mais perigosos da Rússia. Esse tratamento severo evidenciava o temor do governo russo em relação à crescente influência das campanhas de Navalny, conforme apontado pela professora Nina Khrushcheva, bisneta do ex-líder soviético Nikita Khrushchev.

Navalny, mesmo preso, emergiu como uma das principais vozes internas contra a guerra na Ucrânia. Durante uma audiência em maio de 2022, acusou Putin de iniciar uma “guerra estúpida” sem “nenhum propósito ou significado”. Em setembro, em um artigo no Washington Post, acusou as elites russas de terem uma “obsessão sanguinária com a Ucrânia”. Sua fundação também se manifestou contra a mobilização de cerca de 300 mil civis para lutar na Ucrânia.

Reações internacionais à morte de Navalny foram expressas por diversas autoridades. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, criticou a “obsessão” do governo russo com Navalny, enquanto o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o premiê britânico, Rishi Sunak, expressaram pesar pela tragédia e destacaram a coragem do líder opositor. O ministro das Relações Exteriores da França, Stephane Sejournet, considerou a morte de Navalny como pagamento por resistir ao sistema opressivo de Putin.

BBC

Fonte: Terra Brasil Notícias/Foto: Reuteres