O projeto Experiências do Brasil Original, resultante da parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Ministério do Turismo, é uma ação de política pública que dedicou um catálogo ao destino turístico mais famoso do oeste do Pará: a vila balneária de Alter do Chão, distante aproximadamente 37km da zona urbana de Santarém, no oeste do Pará. A produção é rica em informações e imagens deslumbrantes.
Denominado “Experiências Turísticas da Comunidade Indígena Borari Alter do Chão”, o catálogo conta com 43 páginas com capítulos sobre: Comunidade Indígena Borari de Alter do Chão, Mergulho Ancestral com as Suraras do Tapajós, Passeio Cabôco, Dormida na Floresta, Pirarimbó, Grafismo Indígena na Escola Borari, Saúde da Terra – Katumawa Iwí, Caminho em Terras Borari – uma jornada pelos sentidos, Remando na história de Alter de Chão, Piracema Tribal e Trilha na Reserva Botânica Kuxiimawara Rêdá.
Segundo os idealizadores, o principal objetivo do projeto é impulsionar o turismo de base comunitária em comunidades indígenas e quilombolas para o desenvolvimento de experiências turísticas memoráveis e transformativas. É uma forma de valorizar as diferentes culturas, gerar fontes alternativas de trabalho e renda e contribuir para a conservação da sociobiodiversidade das comunidades beneficiadas pelo projeto.
Para entrevistar pessoas, capturar imagens de tirar o fôlego e mostrar com riqueza de detalhes os atrativos e o que ele oferece, a equipe responsável esteve em Alter do Chão no ano de 2023. A proposta é que a partir do contato com o catálogo Experiências do Brasil Original, as pessoas descubram um país que vai além dos destinos convencionais.
Curiosidades
O catálogo destaca que apesar de urbana, a vila de Alter do Chão mantém seus ensinamentos ancestrais, e essa experiência pode ser vivida pelos visitantes durante a visita a um viveiro de ervas medicinais e durante uma caminhada em uma trilha que conta as histórias dos antigos.
Ressalta ainda, que em Alter do Chão, o visitante poderá aprender mais sobre a luta Borari de resgate e permanência de sua cultura em uma escola indígena. E que se encantará com a possibilidade de desfrutar do ambiente natural (e até dormir na floresta) deixando o mínimo impacto e aprendendo com eles sobre a delicada e equilibrada relação entre humanos e natureza, e desejando ardentemente que outras gerações também possam conhecer tanta beleza.
Também mostra como é a legítima piracema, o passeio no Lago Verde na companhia dos catraieiros, que têm no rio seu caminho diário e no lago a fonte das mais variadas histórias, que eles fazem questão de compartilhar com os visitantes.
Um dos destaques do catálogo é Hermes Caldeira Rego, mestre de Carimbó, compositor e artesão nascido e criado na Vila de Alter do Chão, que tem como referência o grande Mestre Chico Malta, uma figura conhecida na manutenção e resistência da cultura popular. Para além da cultura, Hermes é condutor de ecoturismo e turismo de aventura, com mais de 15 anos de atuação na área.
Na companhia de Hermes, a equipe do projeto dormiu na floresta. A noite foi embalada pelos sons e pelo ar fresco da noite amazônica. No passeio “Dormida na Floresta” conduzido pelo Hermes, os turistas são premiados com banho noturno em igarapé e aprendem sobre a montagem das redes, arte do mato, preparo da comida, contação de histórias.
Outra experiência mostrada no catálogo é o Pirarimbó, que mistura a tradição da piracaia (peixe assado na praia) com o ritmo contagiante do carimbó. Nessa experiência, que acontece na praia, o mestre de carimbó Hermes Caldeira brinda os turistas com muita música, proporcionando uma vivência única e inesquecível a quem participa da festa.
Outra figura presente no catálogo é Luiz Alves de Jesus, o “Luizinho”, também nascido e criado na vila de Alter do Chão, assim como seus pais e avós. É formado em gestão ambiental e trabalha com atividades relacionadas ao turismo na vila, seja em atendimento, vendas ou na condução de grupos, que é o que mais gosta de fazer na área. Com ele, a equipe embarcou em uma jornada que iniciou pelo lago verde, onde a riqueza da cultura local se entrelaça com a exuberância do rio e da floresta encantada.
Saberes
O trabalho voltado à defesa e ao resgate da cultura indígena, que é realizado pela equipe de profissionais da educação da escola indígena Borari – Escola Professor Antônio de Sousa Pedroso, também foi destacado no catálogo Experiências Turísticas da Comunidade Indígena Borari Alter do Chão.
Criada em 1985 a unidade escolar não nasceu uma escola indígena. Apenas a partir de junho 2006 a coordenação da Semed foi contemplada a funcionar como educação indígena.
Na escola indígena Borari os visitantes contam com uma visita guiada nas dependências da escola, para conhecer os projetos em andamento na escola e participar de atividades extracurriculares que estejam em andamento.
Outra capítulo mostra a vivência “Saúde da Terra – Katumawa Iwí” na casa da terapeuta popular indígena Borari, Maria Luciene, professora aposentada, trabalha há mais de 20 anos com plantas medicinais da região. Com seus familiares, Luciene recebe os turistas com os rituais de banho de cheiro no quintal de sua casa. No loca, os visitantes passeiam pelo viveiro para conhecer as plantas medicinais e seus usos tradicionais pelos povos indígenas. A proposta é uma experiência sensorial e imersiva para descoberta de aromas e propriedades curativas da natureza.
O catálogo mostra ainda as experiências:
- Caminhos em terras Borari – uma jornada pelos sentidos – comandada pelo empreendedor Dórisson Lobato de Sousa Nascido, a experiência busca proporcionar aos turistas experiências de sabores, cultura e medicina da floresta em um rico roteiro urbano.
- Trilha na Reserva Botânica Kuxiimawara Rêdá – leva o turista a vivenciar noites de celebração em volta da fogueira com carimbó e contação de histórias, a sentir os sabores da deliciosa piracaia, a aprender sobre a força e resistência das mulheres Boraris e, com a permissão dos encantados, a entrar na floresta para vivenciá-la bem de perto.
Catraieiros e Suraras
Associação dos Catraieiros de Alter do Chão, responsável pela travessia de pessoas pelo Rio Tapajós e pelo Lago Verde nas tradicionais catraias tem um capítulo do catálogo. As catraias fazem parte da tradição e da paisagem da Alter do Chão. Tão grande é a importância desses trabalhadores no contexto histórico e turístico da vila, que por meio da Lei nº 21.490 os catraieiros de Alter do Chão foram declarados Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial do município de Santarém.
A publicação também prestigiou as Suraras, o primeiro grupo de carimbó do Brasil composto somente por mulheres. Com clipes e músicas autorais lançadas em todas as plataformas digitais, o grupo Suraras do Tapajós é sucesso no Brasil inteiro.
O grupo reúne mulheres de diversas etnias da região do Baixo Tapajós e tem sua sede localizada na vila de Alter do Chão. Para além do trabalho musical, as Suraras buscam combater a violência contra a mulher indígena e o racismo, promovendo o acolhimento e o fortalecimento da autoestima, contribuindo para o empoderamento econômico e político, na defesa de seus territórios.
Fonte: G1/Foto: Santarém